Sérgio Moro: “Bolsonaro não é tão burro como parece. É um bocadinho mais”

O ministro da Justiça e da Segurança Pública do Brasil, Sérgio Moro, demitiu-se do cargo (Ilustração: Mafalda Neves)

Esta semana, o nosso convidado é Sérgio Moro, o ex-ministro brasileiro da Justiça e da Segurança Pública. Olá, doutor. Imagino que ser ministro da Justiça e da Segurança Pública no Brasil seja uma trabalheira sem fim. Deve ser dos cargos com mais trabalho em todo o Mundo.
É, sem dúvida nenhuma. Só no ano passado tivemos mais de 40 mil mortos por violência.

Por isso é que o presidente Bolsonaro não liga muito ao Corona, mais morto menos morto, também não faz assim tanta diferença. Recentemente, o vosso presidente disse que não era coveiro, mas acho que ele acabou de o enterrar.
A mim ninguém me enterra, não. Eu estou habituado a lidar com todo o tipo de bandido.

Mas desta vez meteu-se com os mais perigosos.
As seitas evangélicas?

Não, os filhos do Bolsonaro. Eu imagino que o Bolsonaro a esta hora está a ligar aos assassinos da Marielle.
A mim ninguém me mete medo.

Confesso que sempre me fez confusão como é que o senhor, que é um tipo extremamente inteligente, aceitou ir para o Governo do Bolsonaro. Tirando o Trump, poucas vezes vi alguém tão burro à frente de um país. A mim dá-me a sensação que, quando ele foi operado, depois da facada, lhe ligaram o intestino às cordas vocais.
Ele não é tão burro como parece. É um bocadinho mais.

Eu acho que ele cometeu um erro ao atacá-lo, ao ponto de o levar à demissão. É uma decisão muito pouco popular. Pior só se ele resolvesse atacar o Jorge Jesus, aí sim, havia uma guerra civil. Se eu fosse a si pedia desde já o apoio da Sagrada Igreja de São Jorge Jesus.
Eu já dei cabo de dois ex-presidentes. E não há duas sem três. Ele está sempre a fazer aquelas pistolinhas com os dedos, o que eu fiz foi mostrar-lhe o dedo do meio.

Entretanto ele já o substituiu por amigos do filho. Cheira-me que ele anda a inspirar-se no nosso Governo do PS. E, agora, o que é o senhor vai fazer da sua vida?
Agora vou para a gráfica.

Vai trabalhar numa gráfica?!
Não, vou começar a fazer os cartazes para a minha candidatura à presidência.

Hum… Sabe que eu sempre achei que era esse o seu objetivo ao aceitar um cargo no Governo do Bolsonaro.
Não. Nunca me passou isso pela cabeça.

Está bem, está. O que vale é que no fundo ele já está habituado. É só mais uma facadita…

Moro num país tropical

O ministro da Justiça e da Segurança Pública do Brasil, Sérgio Moro, demitiu-se do cargo que ocupava desde janeiro de 2019. Sérgio Moro acusou o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de estar a fazer uma “interferência política na polícia federal”, na sequência da demissão do ex-chefe da Polícia Federal do país, Maurício Leite Valeixo. Sérgio Moro foi um dos principais membros do Governo brasileiro e mantinha uma popularidade maior do que a do próprio chefe de Estado, com quem entrou em atrito algumas vezes.