As eleições que partiram o país em três

Os números e factos mais relevantes das eleições legislativas disputadas a 10 de março.

Quando, em novembro, convocou eleições para 10 de março, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, instou os portugueses a escolher um Governo que procurasse assegurar “a estabilidade e o progresso económico, social e cultural”. Porém, face aos resultados das legislativas do último domingo, a estabilidade adivinha-se pífia. O Executivo muda de mãos, é certo, mas a vitória da Aliança Democrática (AD) sobre o Partido Socialista (PS) foi mínima. E o Chega conseguiu um crescimento estrondoso, somando mais de um milhão de votos e celebrando um pretenso fim do bipartidarismo. Entretanto, o PS já avisou que não vai suportar um Governo da AD, enquanto o partido de Ventura promete chumbar já o próximo Orçamento, caso não seja considerado nas negociações. Há um pântano à espreita ao virar da esquina.

Vitória duplamente curta
A AD recebeu a maior fatia de votos nestas eleições, mas a vitória da coligação liderada por Luís Montenegro foi duplamente curta: por um lado, porque a vantagem face ao PS, em termos percentuais, não chegou a um ponto; por outro, porque mesmo em relação às últimas legislativas, só houve um ganho de cerca de 100 mil votos (se contabilizarmos também os votos do CDS e do PPM no último sufrágio). Os resultados finais só serão conhecidos na próxima semana, depois de efetuada a contagem dos votos do círculo da emigração, que vale os últimos quatro lugares no Parlamento. Nesta altura, a AD tem 79 deputados e o PS 77.

“A minha expectativa é que o PS e o Chega não constituam uma coligação negativa”
Luís Montenegro
Presidente do PSD e líder da AD

541 889
O número de votos perdidos pelo PS, em relação às anteriores eleições legislativas. Em termos de subvenção pública, o partido de Pedro Nuno Santos perdeu quase um milhão de euros.

Luís Montenegro, presidente do PSD e líder da AD (Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

4x
O Chega garantiu 48 deputados, quadruplicando o número de mandatos assegurados nas últimas legislativas, em 2022. Bragança serviu de exceção à regra, tendo sido o único distrito em que o partido de Ventura não elegeu deputados. Entre os eleitos, há pastores religiosos, negacionistas e imigrantes nacionalistas. E há vários com problemas na Justiça, desde condenações por ofensa à honra, à suspeita de terem eliminado correspondência de outros partidos ou falsificado documentos. Note-se que o lema do Chega para estas eleições foi “Limpar Portugal”.

O sul mudou de cor
Os resultados do Chega foram particularmente positivos a sul, em regiões que até há alguns anos eram dominadas pela Esquerda. Além de ter vencido em Faro, o partido de Ventura foi o segundo mais votado em Beja, Setúbal e Portalegre e o terceiro em Évora, aniquilando assim a CDU em território alentejano (foi a primeira vez, desde que há eleições livres, que esta coligação não teve representação parlamentar eleita a partir desta região).

“A AD que não conte connosco para governar”
Pedro Nuno Santos
Secretário-geral do PS

Rui Tavares, o outro vencedor
Além do Chega, também o Livre quadruplicou o número de deputados, no caso passando de um para quatro mandatos.

Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS
(Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

IL, Bloco e PAN mantêm
Houve ainda três partidos que mantiveram o exato número de mandatos que tinham alcançado no anterior sufrágio: a Iniciativa Liberal voltou a assegurar oito deputados, o Bloco de Esquerda cinco e o PAN um. O PCP passou de seis para quatro.

Um caso chamado ADN
Outro destaque do último domingo foi o resultado do ADN, liderado por Bruno Fialho. O partido conseguiu mais de 100 mil votos, dez vezes mais do que nas últimas eleições. Uma confusão entre siglas (ADN e AD) ajudará a explicar o resultado.

“Se não houver nenhuma negociação, isso é uma humilhação e votarei contra”
André Ventura
Presidente do Chega, a propósito da votação do próximo Orçamento do Estado

33,8%
A taxa de abstenção registada, a mais baixa desde 1995. Desde 2005 que a percentagem de abstencionistas não baixava dos 40%.

André Ventura, presidente do Chega
(Foto: Gerardo Santos/Global Imagens)

673 mil
O número de votos “desperdiçados”. Mais de 10% de votos válidos não foram convertidos em mandatos nestas eleições. O Bloco foi o partido mais castigado (com 127 mil votos que não se traduziram em mandatos) e Portalegre o distrito mais penalizado – 40% dos votos não serviram para eleger deputados.