Começou a estudar o Corão com quatro anos, impulsionou a Revolução Islâmica, escapou a um atentado à bomba. Lidera o Irão e não tolera desvios à linha oficial.
Num ato sem precedentes, o Irão atacou Israel com drones e mísseis. Ali Khamenei, líder supremo iraniano há mais de três décadas, foi o responsável por dar luz verde à ação militar, depois de anos de ameaças constantes. Aos 85 anos, este homem de discurso intimidatório e presença forte entra na História por acelerar uma escalada de guerra de consequências imprevisíveis.
Seyyed Ali Hosseini Khamenei nasceu em Meshed, a segunda maior cidade do Irão, como segundo dos oito filhos de um pai com raízes no Azerbaijão especialista em legislação jurídica e religiosa. Educado dentro dos parâmetros islâmicos, começou a aprender o Corão logo aos quatro anos. Entrou numa escola teológica, que seguiu até à idade adulta e onde conheceu, em 1958, Rudollah Khomeni, futuro Ayatollah (líder supremo) e seu antecessor. Tornaram-se próximos ao ponto de Khamenei se transformar num dos principais instigadores e organizadores da Revolução Islâmica, em 1978. Foi nomeado vice-ministro da Defesa e em 1980 imã das orações de sexta-feira, as principais da religião muçulmana. O cargo deu-lhe notoriedade e consolidou a sua posição dentro do núcleo duro do regime. Foi precisamente após uma dessas orações que, em junho de 1981, escapou por pouco à morte após ser alvo de uma tentativa de assassinato. Enquanto pregava, o botão de um gravador colocado no púlpito foi pressionado por um dos participantes, acionando uma bomba que explodiu e feriu Ali Khamenei com gravidade nos braços, pescoço e pulmões. A ação foi reivindicada pelo Grupo Forqan, anticlerical e opositor da República Islâmica do Irão. Recuperou rapidamente e sem sequelas, meses depois foi eleito presidente da República.
Com a morte de Khomeni, em 1989, Ali Khamenei passou a ser o homem-forte do Irão. As palavras de ordem contra Israel, considerado o principal inimigo, estiveram-lhe sempre presentes no discurso. “Israel é um cancro.” “É missão apagar Israel do mapa da região.” “Israel é uma entidade horrível do Médio Oriente que merece ser aniquilada.”
Outros alvos foram também dizimados verbalmente por Khamenei. “As raças europeias são bárbaras, matam com facilidade”, considerou.
Como líder supremo, domina toda a ação política e militar do Irão, controlando o país com mão de ferro, não dando azo a manifestações de abertura do regime. Ordenou a supressão violenta dos protestos públicos que pediam abertura e um caminho de liberdade, nomeadamente os de 2019 e 2020, que terão causado, segundo fontes ocidentais, cerca de 1500 mortos, e os de 2022 e 2023, que custaram a vida a meio milhar de pessoas.
Pai de seis filhos, quatro homens e duas mulheres, Ali Khamenei é casado há 60 anos com Mansoureh Khojaste Bagherzadeh, 77 anos, filha de um comerciante rico de Meshed e irmã de um ex-vice-presidente da televisão pública iraniana. Conhecida pela discrição, Mansoureh nunca surge ao lado do marido em cerimónias públicas e nenhuma foto sua foi alguma vez divulgada pelos órgãos de comunicação oficiais, que apenas fazem referência à sua regular assistência aos feridos da Guerra Irão-Iraque (1980-1990).
As mulheres, aliás, continuam a estar no centro do discurso fundamentalista de Ali Khamenei. Limita-lhes os direitos, obriga-as a seguir regras de vestuário e de conduta, castiga-as quando fogem aos seus ditames. “As mulheres devem obedecer”, referiu numa das últimas alocuções antes do recente ataque contra Israel. “O véu é uma regra absoluta da lei islâmica e é obrigatório que cubram tudo, exceto o rosto e as mãos”, disse na ocasião.
Em fevereiro, Ali Khamenei viu as contas suspensas na rede social Facebook por violação das políticas de segurança, devido à divulgação de frases de apoio ao movimento Hamas. “Um ato de censura e um sinal de colapso do sistema moral a nível mundial”, acusou o líder do Irão, que, ainda assim, continuou com palco para fazer passar a sua mensagem. Como o seu próprio site pessoal, no qual são frequentes as instigações e os apelos à punição de Israel, o país de que não esconde um antagonismo que se confunde com ódio.
Cargo: líder supremo do Irão
Nascimento: 19/04/1939 (85 anos)
Nacionalidade: Iraniana (Meshed)