O objeto escolhido pela atriz Maria Henrique.
“Quando eu era criança, vivia em Viseu. Estávamos nos anos 1970, a cidade era ainda muito pequena em tamanho e em oferta cultural. Os meus avós, habituados à vida cosmopolita de Lourenço Marques, agora Maputo, sempre gostaram muito de receber amigos em casa e de viajar. O meu avô Armando tinha uma máquina fotográfica que tratava com o cuidado de um relojoeiro. Eu ficava fascinada com aquela espécie de ritual com que a preparava para registar os momentos da próxima viagem que iria fazer com a minha avó. Esta máquina fotográfica era uma cúmplice dessas viagens, dos momentos importantes a dois. Cada vez que voltavam, eu contava os dias até ao momento em que fosse partilhado com a família o mundo que tinham conhecido, as aventuras vividas, as cores de outras partes do Mundo. Depois da magia da transformação das fotografias em slides, vinha o dia de reunir a família em casa, a olhar para a parede branca, onde seriam projetadas as imagens. Com cada uma vinha uma história, e eu conhecendo o Mundo através do olhar do meu avô. Foi um objeto que o acompanhou toda a vida, como uma continuação dos seus braços. Orgulhosamente, veio para o meu cuidado. Como amante de fotografia que sou, já tive vontade de fotografar com ela; mas preferi não retirar as últimas funções que selecionou na sua última fotografia. Vou preservá-la, com o respeito que merece, como foi deixada pelo seu dono. Obrigada, avô Armando.”
Atriz
55 anos