Texto Catarina Fernandes Martins | Fotografias Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Fui casado 25 anos menos um dia. Na fase final do meu casamento estava com um grande problema de saúde e pensou‑se que eu ficaria numa cadeira de rodas. Ao ouvir essa hipótese, a mãe dos meus filhos disse, perante mim e o médico, que não queria aturar um velho numa cadeira de rodas para o resto da vida. Posso viver mais 150 anos e nunca me esquecerei daquelas palavras.
Não sei se o marido da Rosarinho Martins teve o mesmo pensamento que a mãe dos meus filhos, mas o certo é que a deixou no momento em que ninguém deve ser deixado.
Numa outra relação, uma fístula levou‑me ao hospital. A minha namorada disse‑me que se ia embora e voltaria quando eu estivesse melhor. Nunca mais voltou. Sei o que é não estar bem e precisar de ajuda para sair do buraco, mas ser abandonado pelos que estão à nossa volta…
Não sei se o marido da Rosarinho Martins teve o mesmo pensamento que a mãe dos meus filhos, mas o certo é que a deixou no momento em que ninguém deve ser deixado, após o diagnóstico de um melanoma na cabeça. Eu conheci a Rosarinho quando visitava uma amiga no IPO e fizemos conversa por causa do meu carro.
Ela estava em tratamentos e tirava fotografias em frente ao meu Jaguar, colocando‑as depois nas redes sociais. Brinquei com ela dizendo‑lhe que teria de pagar um imposto. Ela pediu‑me para irmos dar uma volta.
Namoramos há cerca de um ano. Ela está no Carregado e eu em Viseu, mas estamos juntos de quinze em quinze dias, desenvolvemos um ritual romântico de beber vinho pelo mesmo copo, fazemos projetos de férias juntos e temos planos de viver juntos depois de finalizado o tratamento dela. Tenho‑a acompanhado no que é possível com as limitações da distância. Ela está bem, a doença evolui de forma favorável.
Não me assusto, não tenho esse conceito de vida. O mais necessário para ela é saber que tem alguém a quem pode recorrer em todas as circunstâncias da vida.
Tenho 62 anos, sou mais velho do que ela sete anos, mas penso que isso não significa que eu vá primeiro do que ela. Não queria perdê‑la, mas sei que ela tem uma doença que a qualquer momento pode voltar.
Não me assusto, não tenho esse conceito de vida. Não lhe viraria as costas por cobardia, por ter medo de a perder. O mais necessário para ela neste momento é saber que tem alguém a quem pode recorrer em todas as circunstâncias da vida.
A médica diz que a nossa relação lhe tem feito bem, que está mais animada, que tem outra vontade de viver. Começou por uma brincadeira e hoje tem a forma de um amor efetivo. Consegui até que ela começasse a torcer pelo Benfica.
É constante ela dizer‑me que me ama, que sou importante na vida dela. Se assim é, fico feliz. Faço sempre tudo no sentido de a ver bem, de a ver saudável e alegre. Não o faço com sentido de recolher nenhum dividendo.
A médica diz que a nossa relação lhe tem feito bem, que está mais animada, que tem outra vontade de viver. Começou por uma brincadeira e desenvolveu‑se como uma semente, um embrião que vai ganhando corpo e que hoje tem a forma de um amor efetivo entre duas partes que se respeitam, se amam e se querem ver mais juntos. Consegui até que ela começasse a torcer pelo Benfica.
Leia as outras histórias da reportagem O Cancro na Primeira Pessoa: