O objeto escolhido pela compositora e intérprete Joana Espadinha.
“Quando a minha avó morreu, encontrámos nos armários de sua casa vários fatos ‘saia-casaco’ quase por estrear.
A minha avó não era muito dessas coisas. Prática, de gostos clássicos, discreta nos seus gestos, mas sempre decidida nas suas vontades.
Encontrei este casaco, que achei invulgar, e pedi para ficar com ele, para ter alguma lembrança sua.
No auge da sua doença, que lhe retirou a capacidade de falar e praticamente de se mover (mas nunca de pensar), eu estudava em Amesterdão e passámos a corresponder-nos regularmente por email, dando-me mais uma prova da sua inigualável determinação.
Mãe de seis, conseguiu licenciar-se entre filhos, e dividia-se em três ofícios, farmacêutica, professora e ainda fazia análises clínicas.
Às vezes, sonho com ela e mato as saudades, sobretudo de ouvir a sua voz de soprano, sonho que nunca concretizou.
O casaco, visto-o poucas vezes, com medo de o estragar.”
Compositora e intérprete
40 anos