Os estímulos exteriores diminuem o rendimento? Depende. Ouvir música e de que estilo, ver televisão e que programa, andar ou não de fones. Às vezes, sim. Às vezes, não.
Ir para o ginásio ao início da manhã ou ao fim da tarde, a que horas for, e ouvir a seleção musical que sai pelas colunas enquanto se exercita o corpo. Ou levar auriculares nos ouvidos com as músicas que fazem sentido naquele momento, seja dentro dessas quatro paredes ou quando se anda ao ar livre. Cada um sabe quais são essas melodias, essas canções. Ou fazer exercício com a televisão ligada e deixar naquele canal com os programas a correr ou então optar por uma série ou um filme enquanto se caminha ou se corre na passadeira (jogos de futebol não são aconselháveis). Os estímulos à volta, enquanto se exercita o corpo, são focos de distração ou de concentração? Onde deve estar a cabeça para tirar o máximo de rendimento?
Nélson Fernandes é personal trainer (PT) e está habituado a trabalhar com uma diversidade de gente que exercita o corpo, seja diariamente ou semanalmente, seja que periodicidade for. Há pessoas mais comprometidas e focadas do que outras nesta parte das suas vidas. Em seu entender, a expressão cada caso é um caso aplica-se aqui na perfeição. “Há pessoas que usam a raiva, o que é menos bom, para treinar, para dar ânimo. E há pessoas que são mais felizes a treinar com outro tipo de estímulos. Cada um deve encontrar a sua força interior e usá-la”, sublinha. É um bom ponto de partida até porque há quem sinta o desporto como o melhor antidepressivo dos dias que correm.
Hugo Pombo é fisiologista do exercício e faz algumas observações sobre a matéria. “Enquanto se faz exercício físico, é importante focar na técnica, na respiração e no corpo para tirar o melhor rendimento do exercício. O que funciona melhor para cada pessoa pode variar, mas, geralmente, é útil manter a mente concentrada no movimento e nos objetivos”, nota. Tudo isso é importante, como outras coisas também. “Encontrar o equilíbrio entre foco e motivação é essencial para otimizar o rendimento”, acrescenta o fisiatra. Não só, como é evidente. “Durante o exercício físico, é recomendável manter-se hidratado, ouvir os sinais do corpo, ajustar a intensidade conforme necessário e prestar atenção à técnica para evitar lesões.” Convém evitar percalços.
A cabeça é fundamental quando se exercita o corpo. No que pensar, então, para tirar o melhor rendimento? Para Nélson Fernandes, há duas questões que fazem sentido. “Pensar no que se quer mudar na vida através do exercício, no que se quer fazer, qual o objetivo, ter menos dor muscular ou ter mais autonomia, por exemplo.” O que seja. Qual o rendimento que se pretende, no fundo, para adequar o treino de resistência, de persistência, de consistência. Por outro lado, ter presente um ponto importante. “Perceber que o exercício é um fator de saúde e não uma questão de estética.” Mexer o corpo para estar bem e ficar melhor.
Normalmente, a decisão de fazer desporto não surge por acaso, há objetivos associados, e o rendimento é um deles. Pedro Roque é fisioterapeuta e, em sua opinião, a perceção de quem faz exercício é o que conta sempre. Ou seja, essa disponibilidade para alcançar um determinado nível de rendimento. O propósito e o grau de dedicação. Tudo conta e pesa nos dois pratos da balança. “Há quem entre num ginásio com pensamentos mais duros para treinar e há quem prefira pensar nas cataratas do Niágara para se focar.” Depende das preferências de cada um. Em todo o caso, há que lidar e encaixar os vários estímulos que chegam do exterior e decidir o que fazer na hora do exercício físico.
Marcar o ritmo e ouvir os sinais do corpo
Um exercício cárdio, pedalar numa bicicleta fixa, caminhar ou correr na passadeira, são atividades que permitem alguma liberdade, como ver um programa na televisão ou uma série em streaming – não se recomendam jogos de futebol por óbvios motivos. O resto é possível porque, explica Pedro Roque, “não precisam de uma atenção máxima.” Neste contexto, tudo ok. “São exercícios repetitivos e que não necessitam de concentração e de atenção plenas. O movimento do corpo é sempre constante, é uma concentração de longo prazo”, adianta o fisioterapeuta.
A conversa muda um pouco de figura quando se fala em musculação, em crossfit, em atividade específica, execução técnica, em que ter os olhos num pequeno ou grande ecrã não é boa ideia. É necessário concentração e disciplina. “Ter os sentidos todos focados”, diz Pedro Roque. Porque há várias articulações envolvidas, porque há trabalho de força a fazer. E quando não se domina a técnica, é preciso mais cautela, mais os sentidos devem estar em alerta.
Nélson Fernandes não aconselha televisão ligada. “Gera distração, condiciona o rendimento, as pessoas não estão atentas à intensidade nem focadas no treino”, sustenta. Conversar é outra história. “A parte social também existe no ginásio, ter um bom parceiro pode melhorar o treino, sobretudo para quem não tem muita motivação.” Um amigo ajuda sempre, portanto.
Depende de cada um, segundo Hugo Pombo. “Ver televisão pode ser uma opção para algumas pessoas, mas pode distrair outras. Depende do tipo de atividade e das preferências individuais de cada um”, comenta o fisiatra.
Ouvir música é outro assunto. Não há uma playlist universal para ir para o ginásio ou para a fisioterapia, para correr ou para caminhar. Cada um tem a sua seleção musical e sabe o que gosta mais de ouvir e o que pode ser melhor quando é hora de exercitar o corpo. Nélson Fernandes, personal trainer, recomenda som. “Música, sem dúvida, porque provoca diferentes sensações e pensamentos e permite tirar melhor rendimento desportivo.” Quanto à escolha, é sempre pessoal e intransmissível. E se há música no ginásio que não agrada, a solução é meter fones nos ouvidos com melodias selecionadas.
Há outra questão, porém, realça o fisiatra Hugo Pombo. “Correr com auriculares ou estar no ginásio com música alta pode interferir no rendimento se distrair excessivamente ou não permitir que se ouça os sinais do corpo.” Um conselho: “É importante ajustar o volume para um nível que motive sem prejudicar a concentração.”
Música, sim, claro, e a sua cadência não é pormenor sem importância. “Ouvir música pode ajudar a marcar o ritmo e motivar, especialmente em atividades cardiovasculares ou treinos de resistência, logo os géneros musicais mais animados e com batidas mais fortes e consistentes tendem a ser mais indicados, mas isso pode variar de acordo com as preferências de cada um”, destaca Hugo Pombo.
Qual a melhor música para fazer exercício físico? “É uma pergunta subjetiva”, responde Pedro Roque. Há pessoas e pessoas, atletas e atletas. A escala musical é vasta, o degradê é imenso, os estilos idem aspas. Rock, fado, samba, tudo é permitido. Conforme os gostos. “O importante é manter o foco no que se está a fazer, seja música mais calma, seja mais agressiva”, defende o fisioterapeuta.
Volta-se sempre ao ponto de partida, neste caso, ao que cada um quer e gosta. “Elementos externos como música, televisão ou conversar com amigos podem tanto distrair como ajudar na concentração, dependendo de como são utilizados e das preferências individuais”, remata Hugo Pombo. Nem mais.