A moda dos carros híbridos

O que é que estes carros têm para serem tão cobiçados? São amigos do ambiente, são uma referência tecnológica e dão tanto prazer de condução como os convencionais.

Quando Leonardo DiCaprio, Anthony Hopkins, Jennifer Aniston ou Cameron Diaz começaram a ser vistos, a partir de 1997, ao volante de um Toyota Prius, todos acharam que os híbridos eram a nova coqueluche de Hollywood. Tinham o rótulo «ecológico»; estavam na moda. Hoje, a maioria das marcas têm versões híbridas – a Porsche até já fez saber que planeia, num futuro próximo, ter uma versão híbrida de todos os seus modelos, incluindo o 911(!) – e na realidade qualquer coisa mudou. Mas o quê? Há o lado do condutor – e já lá vamos – e o do fabricante, que está obrigado a partir de 2020, pela Comissão Europeia, a limitar as emissões médias de dióxido de carbono dos automóveis novos de passageiros para um máximo de 95 g/km, mas a verdade é que os híbridos são uma boa alternativa. Porquê? São ecológicos – o argumento é o mesmo quase vinte anos depois –, combinam um motor comum de combustão com um elétrico, que permite poupar combustível e é «verde». O Prius tem emissões de CO2 de 70 g/km, mas até o Porsche Panamera 4 E-Hybrid se fica pelos 56 g/km, muito abaixo dos 166 g da versão diesel ou dos 196 g do motor menos poluente a gasolina.

Híbrido está na moda e a moda é também polivalência. Estes carros combinam o melhor da tecnologia de um motor a gasolina ou diesel com um motor elétrico. É o lado funcional a falar mais alto: o condutor escolhe, minuto a minuto, entre economia de combustível ou mais potência, dependendo da condução. Só que não é fácil fazer esta gestão: é preciso aprender a conduzir de forma eficiente num carro em que os baixos regimes, acelerações e travagens suaves fazem a diferença, pois tendencialmente usam apenas o motor elétrico. O custo é zero, mas tem como desvantagem a baixa autonomia; pé a fundo no pedal aciona o motor de combustão e os consumos disparam.

Com base neste princípio, em cidade, não é difícil que a maioria dos híbridos faça consumos interessantes, graças ao motor elétrico. Já na autoestrada é preciso manter os baixos regimes e aproveitar a embalagem das descidas. O custo por quilómetro é mais baixo, na maior parte dos casos, porque o motor elétrico – com baterias recarregadas com energia proveniente da travagem, ou ligado à corrente elétrica – substitui muitas vezes o motor a gasolina ou a diesel. Acontece que comprar um veículo híbrido é, por norma, mais caro devido à tecnologia usada e pelo baixo volume de vendas, que obriga a custos de produção mais elevados.

É certo que em 1997, o Prius – que foi o primeiro automóvel híbrido do mundo fabricado em série – era uma bandeira ecológica para quem o conduzia. DiCaprio e todas as estrelas de Hollywood sabiam disso. Vinte anos depois, estes carros deixaram de precisar do «rótulo». Um BMW Active Hybrid é igual, por fora, a qualquer outro BMW a gasolina ou a diesel. E o mesmo é falar de um Mitsubishi Outlander PHEV ou de um Volkswagen Golf GTE, que não diferem em nada. Os híbridos ganharam estatuto na hora de escolher a motorização do carro novo. Veja-se o exemplo da Lexus (marca de luxo da Toyota), que tem uma vasta gama de híbridos: citadino, familiar, executivo, SUV compacto ou de luxo e até um desportivo.

E porque estamos a falar de dois motores num só carro, temos também uma nova experiência de condução. Quando carregamos no Start é tudo tão silencioso que ficamos confusos: está a trabalhar? Sim, é o motor elétrico. A baixa velocidade, parece que está a deslizar na estrada, e com caixa automática de variação contínua, não há solavancos. É silêncio total, ao ponto de as pessoas atravessarem a rua, convencidas de que não vem lá carro nenhum – por isso, cuidado(!).

COMO FUNCIONA O SISTEMA HÍBRIDO
Os híbridos reciclam energia. Porque usam dois motores – um a gasolina, no caso do Prius, e outro elétrico -, nas acelerações funcionam em conjunto, para melhor desempenho, e nas desacelerações e travagens o sistema híbrido recicla a energia cinética produzida para recarregar as baterias. Essa informação está disponível no computador de bordo para ajudar na condução.

TOYOTA PRIUS VS LEXUS CT200H
Irmãos bem diferentes, o Toyota Prius e o Lexus CT200h partilham da mesma tecnologia híbrida associada à gasolina (motor 1.8), ainda que com níveis de potência diferentes. A quarta geração do Prius responde melhor às exigências do mercado, beneficiando de uma plataforma que permite melhor desempenho, eficiência energética e prazer de condução. O Prius, com 122 cv, gasta apenas 3,0 l/100 km (anuncia a marca) – é uma referência no segmento. Já o CT200h continua a ser o único híbrido compacto de luxo – os bancos são tão confortáveis que dá vontade de fazer viagens longas. Com 136 cv, é mais divertido de conduzir (no modo sport), mas é demasiado pequeno para uma família, uma cadeirinha de bebé atrás condiciona muito o espaço no banco da frente, e é impossível colocar o carrinho de bebé na bagageira. Limitações de espaço que não irá encontrar certamente no Prius.

MITSUBISHI OUTLANDER PHEV
O mais surpreendente deste Outlander é poder circular dentro da cidade em modo exclusivamente elétrico – com autonomia para 52 km. Para quem acha que a desvantagem é o tamanho, experimente a câmara de visão exterior 360 graus – é excelente. Se quiser ir para autoestrada, o espaço a bordo é abundante para uma família, pese embora a limitação da bagageira (e o facto de não haver uma versão de 7 lugares), mas não espere que este motor a gasolina faça os mesmos consumos refinados. O consumo misto de 1,8 l/100 km fica aquém do verificado. Outra vantagem, é que este é um SUV 4×4, promete aventuras «ecológicas» fora de estrada.

PORSCHE PANAMERA 4 E-HYBRID
Um Panamera é um carro de sonho. Mas será que o híbrido é assim tão desejado? E se lhe dissermos que debita 462 cv e consome apenas 2,5 l/100 km de gasolina, muda de opinião? Na verdade, se acelerarmos a fundo este desportivo em autoestrada, o trunfo dos consumos desvanece, é vê-los disparar. Mas se for conduzido com moderação… a Porsche garante que percorre 50 km em modo 100% elétrico, sendo que só falta dizer que tem quatro lugares e uma bagageira com espaço suficiente para todos.


Leia também: «Volante, para quê? Os carros podem andar sozinhos»