Margarida Rebelo Pinto

Mulheres de calças


Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

Em 1928, com apenas 16 anos, a americana Elizabeth Robinson tornou-se na primeira mulher a ganhar a medalha de ouro olímpica na modalidade de Corrida de 100 Metros. Três anos depois, o avião no qual viajava caiu. O corpo de Elisabeth foi levado no meio de outros cadáveres para a morgue, mas quando o observaram, verificaram que estava vivo. A jovem demorou anos a recuperar as faculdades motoras, sem nunca desistir. Em 1936, voltou a integrar a equipa olímpica de 4×100 metros e ganhou de novo a medalha de ouro.

Em 2103, Diana Nyad tenta, pela quinta vez consecutiva, fazer a travessia a nado entre Cuba e a Florida. É notável que uma sexagenária se tenha recusado a desistir de um sonho antigo, quando o resto do Mundo já se esquecera das suas façanhas anteriores. O filme “Nyad” relata com assinalável realismo quer a luta interior da nadadora, quer todas as peripécias e sacrifícios a que se sujeitou para alcançar o seu objetivo. Tinha 64 anos quando chegou à praia de Miami, depois de nadar 52 horas, 54 minutos e 18 segundos.

No início da década de 1970, a atriz Mary Tyler Moore fazia questão de usar calças no seu programa semanal no canal de televisão americano CBS “The Mary Tyler show”, uma sitcom que relatava episódios de uma trintona solteira e ambiciosa, distante do estereótipo da dona de casa americana do pós-guerra que se realizava na sua vivenda de subúrbio, cercada de tédio e de eletrodomésticos. Quando Mary apareceu em cena vestindo calças modelo Capri, os patrocinadores torceram o nariz à ousada indumentária e ditaram que a atriz poderia usar calças em apenas uma cena por episódio. Mary foi insistindo, usando as Capri em várias cenas, desafiando as ordens superiores, até conseguir impor a sua vontade.

Embatendo de frente, ou através de estratégias que evitam o confronto direto, a história da humanidade está repleta de episódios e de vidas inteiras de mulheres que decidiram, contra tudo e todos, levar a sua vontade adiante. A verdade é que muitas mulheres são dotadas de uma vontade indómita que as faz nunca baixar os braços quando acreditam numa causa ou sonham em alcançar um determinado objetivo. O termo “mulheres de calças” é machista, porque reconhece a priori que a força feminina vem de um look masculinizado. Contudo, é um dos meus preferidos, porque remete para uma realidade incontornável: a força é parte do feminino e manifesta-se em pequenos e grandes gestos. Além disso, uma mulher bonita e feminina de calças é um ícone de beleza, como demonstraram Lauren Bacall e Audrey Hepburn.

Acredito que um Mundo sem mulheres fortes seria o passo mais rápido para a extinção da humanidade.