Secretário de Estado durante menos de um mês, liderou o Infarmed e está à frente da Ordem dos Médicos do Norte. Adora comida tradicional e de praticar golfe e vela. Vai tentar salvar o SNS.
Nomeado pelo Governo coordenador do plano de emergência para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), Eurico Castro Alves tem mais de três décadas de ligação profunda ao setor. Um amor que surgiu cedo.
Nasceu e cresceu no Porto, onde continua a viver, e é adepto do F. C. Porto – “Tenho muito prazer em ver jogos, mas não sou frequentador assíduo do Estádio do Dragão”. Foi também na Invicta que tirou o curso de Medicina e se especializou em cirurgia. Nunca hesitou na hora de escolher o curso. “Desde criança que via as sardaniscas no quintal de casa dos meus pais e tinha curiosidade em perceber como eram por dentro. Depois, ao mesmo tempo que crescia em mim o sentimento de querer ser útil à sociedade prestando auxílio a quem precisava, fui tentando saber cada vez mais sobre como funciona o corpo humano”, lembra.
A primeira experiência profissional teve-a como estagiário no extinto Hospital de Paredes, a que se seguiu, em 1990, o ingresso como efetivo no Hospital de Santo António, no Porto, a que continua ligado. Convidado para dar aulas como assistente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto ainda estudante, doutorou-se mais tarde em cirurgia pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, onde é docente catedrático. Pelo meio, completou a formação em Chicago, nos EUA.
A atividade pública colou-se-lhe à pele desde cedo. “A consciência de intervenção na sociedade esteve sempre muito viva em mim”, sublinha. Ativo na Ordem dos Médicos, cuja Secção Regional do Norte lidera atualmente, pertenceu ao Conselho Diretivo da Entidade Reguladora da Saúde de 2005 a 2012, onde se destacou ao criar o Sistema Nacional de Avaliação em Saúde, “muito importante para que as reclamações dos utentes pudessem ser ouvidas”. Não deixou de exercer a profissão. “Durante sete anos desloquei-me pro bono ao Hospital de Santo António todas as segundas-feiras”, recorda.
Seguiu-se a liderança do Infarmed, entre 2012 e 2015, que também tentou revolucionar. “Lancei o Sistema de Avaliação de Tecnologias de Saúde, que ainda funciona, embora a 50% em relação ao conceito original”, salienta. “Gosto de deixar marca por onde passo”, diz. Foi isso que também tentou levar à prática na curta experiência como secretário de Estado da Saúde, tendo como ministro Fernando Leal e Silva no segundo e efémero Governo de Pedro Passos Coelho, no final de 2015. “Apesar de só ter exercido funções durante 29 dias, preparei um programa nacional de vacinação contra a gripe para idosos, cujo mérito foi depois aproveitado por outros”, constata.
Tendo feito parte de um Governo PSD/CDS e sendo agora nomeado para funções públicas por outro Executivo das mesmas cores políticas, Eurico Castro Alves permanece independente. “Quando era estudante universitário, fui militante da Juventude Centrista, ala jovem do CDS. Dificilmente serei algum dia militante de qualquer outro partido. A minha visão é outra, a da consciência cívica de participar em permanência na vida pública”, define. “Já votei em vários partidos e não tenho problema algum em assumir que nas últimas eleições escolhi o PSD”, confessa.
A recente chamada para liderar o grupo de trabalho que vai traçar o plano de emergência do SNS apanhou-o como diretor do Departamento de Cirurgia do Centro Hospitalar de Santo António, onde entretanto se tornou o primeiro presidente do Conselho Académico Cínico, e como professor universitário. Prefere não falar da nova tarefa e dos respetivos desafios. Garante, isso sim, que vai tentar guardar tempo para continuar a praticar golfe e vela, as atividades favoritas – “Porque significam contacto com dois elementos fundamentais da Natureza, a terra e a água” – e para reunir amigos à volta de uma boa refeição, se possível composta por comida tradicional portuguesa. “O convívio é fundamental, embora signifique um pouco de peso a mais em relação ao que gostaria”, brinca. Também promete não abdicar da companhia permanente da companheira de sempre e da filha de 29 anos, médica-dentista.
Cargo: médico-cirurgião, coordenador do plano de emergência do SNS
Nascimento: 25/05/1961 (62 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)