O "Consultório de Sustentabilidade" desta semana, por Joana Guerra Tadeu.
Tenho visto publicações nas redes sociais sobre os rastros que os aviões deixam para trás serem químicos tóxicos que nos adoecem. É verdade?
Érica Santos
Uma das mais famosas teorias da conspiração a circular na Internet: “chemtrails” ou “rastros químicos”. Uma imagem recentemente viral no Facebook afirma mostrar como identificar um por comparação a um rastro de condensação normal deixado no céu por um avião, com base no comprimento das linhas e no tempo que permanecem visíveis.
Os rastros são criados quando o vapor de água quente emitido por um motor a jato, após a combustão, arrefece e se condensa em torno das partículas criadas pela queima do combustível, permanecendo sólido na atmosfera terrestre. Tanto o comprimento como a durabilidade dos rastros dependem da altitude e das condições atmosféricas, e não de diferentes químicos emitidos: formam-se mais comummente na altitude de cruzeiro de um avião, entre cerca de 32 e 42 mil pés (10 a 13 mil metros de altitude) na alta troposfera; se estiver frio e a humidade do ar for alta, os cristais permanecerão onde estão, espalhando-se, deixando um rastro fofo por onde o avião passou, e permanecendo no céu por muitas horas; se o ar estiver mais quente e seco, os cristais de gelo passarão de sólidos a gasosos rapidamente e tornam-se invisíveis.
Os rastros que vemos provocados pela passagem de aviões devem preocupar-nos, mas porque contribuem para a poluição atmosférica e o aquecimento global (sim: o vapor de água é um gás com efeito de estufa!), não porque libertam químicos criados especificamente para adoecer gente, controlar populações ou fazer geoengenharia. Esta teoria da conspiração teve origem num documento emitido pelo Governo dos EUA, em 1990, que analisava a possibilidade de os combustíveis dos aviões afetarem o clima.
O impacte ambiental do transporte aéreo tem aumentado na proporção em que baixam os preços das viagens comerciais, e ocorre não só devido à emissão de vapor de água mas, sobretudo, devido à queima de querosene, o principal combustível utilizado pelos aviões. Apesar de os “chemtrails” serem ficção, não deixa de ser verdade que viver perto de aeroportos não nos faz bem à saúde, por sermos sujeitos a níveis de poluição atmosférica mais elevados.
Um estudo recente da NASA e do DLR (Centro Aeroespacial Alemão) revelou que o combustível de aviação sustentável pode reduzir a formação destes rastros em 50% a 70%. Mas a medida mais importante para fazer frente a este problema é mesmo a redução do tráfego aéreo, suprimindo e reduzindo voos de curta distância e substituindo-os por viagens em comboio.
*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, Jardinagem, Saúde, Finanças Pessoais, Sustentabilidade e Sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected].