Quando o cibercrime põe fim aos dias de férias

Esperamos o ano todo por este momento. Mas, por vezes, e sem termos noção, a utilização dos aparelhos eletrónicos pode estragar aqueles que seriam os nossos merecidos dias de descanso. Para evitar desilusões e cibercriminosos é recomendável ter alguns cuidados com a forma como o usa.

Seja qual for o seu plano para o verão, é bem provável que use o telemóvel para quase tudo. Desde consultar direções no Google Maps ou Waze, até colocar fotos na praia no seu perfil do Instagram, ou mesmo ver uma série. E se viajar de avião, vai também utilizar o telemóvel para fazer o check-in dos voos. Mas o que não está à espera é de cair na armadilha de um cibercriminoso que pode arruinar as tão esperadas férias.

Segundo Isabel Baptista, coordenadora do departamento de Desenvolvimento e Inovação do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), com as férias, as pessoas ficam mais relaxadas e por isso “é importante que essa descontração não se traduza num menor cuidado com os riscos de cibersegurança, e que as pessoas possam continuar a usar os dispositivos eletrónicos em contexto de lazer com o mesmo cuidado que usam em contexto profissional, com as devidas precauções”.

A especialista refere que “deve procurar adotar alguns cuidados como evitar o uso de redes wi-fi desprotegidas e sempre que possível utilizar uma rede virtual privada (VPN), evitar ter o bluetooth e a localização do seu smartphone ligados desnecessariamente”. Mas também ativar as opções de bloqueio remoto, a autolocalização e software antirroubo “e garantir que os dispositivos se encontram atualizados com antivírus”.

Antes de viajar, cuidado com o aluguer da casa de férias
Quando se trata de alugar uma casa de férias tenha muito cuidado, não só no site onde aluga como também com quem fala. Os cibercriminosos costumam dar a desculpa de que não podem mostrar o apartamento porque estão no estrangeiro. Mas Isabel Baptista reforça também que só se deve navegar “apenas em sites de confiança, privilegiando endereços com “https”, desconfiar de ofertas demasiado boas em anúncios de aluguer de apartamentos ou casas de férias, mas também recolher informações sobre o responsável pelo anúncio do aluguer em questão e utilizar formas de pagamento mais seguras, como os cartões de crédito temporários ou as carteiras digitais”. Para se proteger, peça algo absurdo que quereria fazer no apartamento, como pintar um quarto. Normalmente um proprietário não aceitaria, mas um cibercriminoso diz sim a tudo.

É recorrente haver situações em que alguém alugou um apartamento e, quando chegou ao local, o prédio ou mesmo a rua não existia. Por isso, recomenda-se pesquisar o endereço no Google Maps para verificar, se pelo menos, a área é urbanizada ou, mesmo que tenham dado o nome e o apelido da pessoa que vai alugá-lo, é possível pesquisar informações sobre essa pessoa para saber se realmente existe. Assim, o melhor é recorrer a plataformas e serviços reconhecidos para alugar a casa e não qualquer anúncio na Internet. Mesmo assim, a fraude também pode ocorrer nessas plataformas, mas pelo menos tem suporte da empresa caso haja algum problema. Além disso, estas plataformas têm meios para remover rapidamente anúncios ou perfis fraudulentos.

Mesmo que a foto seja espetacular, pense duas vezes antes de a colocar nas redes sociais
Em plenas férias, é provável que sinta a adrenalina de se divertir e viver um momento esperado há meses e é natural que queira compartilhá-lo com os seus amigos e conhecidos. No entanto, antes de enviar as fotos que acabou de tirar para as redes sociais, deve considerar se elas fornecem muita informação. É que uma foto não mostra apenas a paisagem ou um prato, muitas vezes informa se estamos em casa ou não, se estamos acompanhados, o estilo de vida que levamos, se temos um alto poder de compra, etc. Por isso, a responsável do CNCS recomenda que “os utilizadores das redes sociais aceitem apenas ligações de pessoas conhecidas e que escolham um perfil fechado. Ao limitar o acesso ao seu perfil, está a limitar o acesso aos seus dados pessoais e às fotografias que partilha online”. É que, para Isabel Baptista, “se um cibercriminoso tiver acesso às suas redes sociais pode perceber através das fotografias que publica qual a sua localização e outras informações pessoais” e, por isso, deve-se evitar “partilhar fotografias que revelem locais como a sua residência, crianças, ou que exponham dados sensíveis”.

As redes sociais são um meio que os cibercriminosos usam com o fim de recolher informação sensível sobre possíveis vítimas. “Essa informação pode ser usada, por exemplo, em ataques de phishing ou em assaltos a residências. Já sabemos que a criminalidade tende a aumentar nos períodos de férias, aproveitando que muitas pessoas não estão em casa, e as redes sociais podem ser um canal de informação muito útil para os ladrões”, explica a especialista.

Há ainda um outro perigo: o de se arrepender após algum tempo de ter partilhado determinado tipo de fotografia. Nas férias vamos a mais festas, eventos, atividades de lazer, etc. Podemos estar de biquíni ou de calções, tirar fotos aos filhos menores, mas temos de refletir se daqui a dois ou três anos vamos queremos que estas fotos estejam na rede porque mesmo que quiséssemos removê-las, outras pessoas poderiam tê-las copiado ou armazenado. Houve casos em que certas imagens foram usadas para criar perfis e identidades falsas. E não é preciso ser famoso. Os cibercriminosos aproveitam qualquer informação que um utilizador normal carregue para obter um retorno sobre ela.

Se possível, evite ligar-se a redes wi-fi públicas
Quando se está fora de casa e, claro, do trabalho, é inevitável recorrer aos dados móveis. Embora cada vez mais pessoas desfrutem de planos mais completos e com maior número de gigabytes para navegar, ainda é comum que os utilizadores os esgotem antes do tempo. Muitas pessoas, assim que veem um wi-fi gratuito, tentam logo ligar-se sem saber o que isso pode implicar. Se nos ligarmos a uma rede wi-fi da qual não conhecemos a sua configuração e as pessoas que estão ligadas, os riscos são exponenciais. Em princípio, ninguém a usa para fins maliciosos, mas esse risco nunca pode ser descartado. Assim, só deve ligar-se a redes wi-fi públicas apenas em caso de extrema necessidade ou para realizar ações em que não haja troca de informações pessoais, não carregar fotos ou realizar procedimentos online, como compras. Em locais como cafés, hotéis, escritórios e aeroportos é possível aceder à Internet em pontos de acesso wi-fi que estão acessíveis a todos. Por isso, Isabel Baptista alerta para a falta de “confidencialidade das informações armazenadas”, pelo que a ligação dos telemóveis ou computadores a estas redes “deve ser feita preferencialmente através de uma rede virtual privada (VPN), evitando que a navegação online seja monitorizada por estranhos e garantindo a segurança dos dados”.

Aproveite para ativar a dupla verificação no seu telemóvel
Nos últimos anos, a dupla verificação ou duplo fator de autenticação vem ganhando cada vez mais importância e cada vez mais plataformas e serviços oferecem a opção de ativá-los. Mas em que consiste exatamente? Por exemplo, quando faz o login do seu email ou de uma rede social, normalmente só precisa de fornecer a senha de acesso. Com a dupla verificação, a proteção é maior por exigir ao utilizador que insira um código que normalmente chega ao seu telemóvel via SMS, para além da senha. Assim, mesmo que alguém conseguisse descobrir a senha, não conseguiria aceder à conta.

Já que tem tempo livre, mude as senhas de uma vez e use um gerenciador
Se alguém obtiver uma das nossas senhas e descobrir que a usamos para vários serviços, os cibercriminosos poderão ter acesso a várias das nossas plataformas pessoais. Assim, aproveite um pouco do seu tempo livre para alterar as senhas. Para memorizar todas elas, podem recorrer a mnemónicas ou simplesmente utilizar um gestor de palavras-passe que funciona com uma palavra-passe mestra e, por isso, apenas têm de memorizar essa. Existem várias aplicações deste tipo gratuitas que pode usar e que permitirão que tenha senhas aleatórias de alta resistência sem ter que se lembrar delas.

Como sempre, tenha cuidado com SMS fraudulentos
Embora não seja algo exclusivo desta época, nos últimos tempos, o número de fraudes relacionadas a mensagens SMS aumentou consideravelmente. Assim, o CNCS recomenda a “leitura atenta da totalidade da mensagem, incluindo o número de telefone de origem, a qualidade do texto e a existência e destino de hiperligações no corpo do texto”.

Mesmo que qualquer um destes fatores seja, aparentemente, menos fidedigno ou suscite dúvidas, “o utilizador não deve clicar em hyperlinks ou enviar quaisquer dados pessoais e buscar informação adicional”, explica Isabel Baptista. Neste caso, contacte, por exemplo, a Linha Internet Segura (800 21 90 90 ou [email protected]).

Isabel Baptista relembra que está a decorrer uma campanha nacional Internet Segura: #LerAntesClicarDepois, com o propósito de reforçar, junto de todas as pessoas e organizações, a informação sobre o bom uso do ciberespaço. Tem havido um aumento de casos de falsificação de identidade de entidades bancárias por SMS (crime conhecido como smishing), com muitos utilizadores afetados. Os bancos estão a alertar os clientes, mas é preciso ter muito cuidado.

Atenção aos códigos QR
Desde o início da pandemia, de forma a reduzir os contactos entre os utilizadores, muitas empresas passaram a optar por códigos QR para que os clientes de um restaurante, por exemplo, pudessem consultar a ementa a partir do próprio telemóvel ou para que os visitantes de um museu pudessem aceder a um programa.

A verdade é que os cibercriminosos começaram a utilizar esses códigos com técnicas tão grosseiras quanto colar um adesivo em cima do código real. Por isso, é recomendável ficar atento se o site que vem do código QR pede dados pessoais ou se desconfia que alguém lhe está a roubar informações do telemóvel.