Jorge Manuel Lopes

Na colmeia do jazz de Lee Morgan

Lee Morgan

Crítica musical, por Jorge Manuel Lopes.

Ouça-se com atenção “The beehive”. Mais do que isso, absorva-se o impulso fenomenal que dá corda aos 12 minutos de uma composição do pianista Harold Mabern, uma viagem sem pausa para respirar fundo que tem ao leme Lee Morgan, o trompetista de Filadélfia que teve uma carreira tragicamente curta – faleceu a 19 de fevereiro de 1972, aos 33 anos.

A versão de “The beehive” acima descrita é uma das três que se encontra em “The complete live at The Lighthouse”, caixa de oito CD (ou 12 LP) agora editada pela Blue Note, versão revista e ampliada de “Live at The Lighthouse”, álbum de 1970. Como o título sugere, as gravações foram efetuadas ao vivo, no Lighthouse Café, na cidade californiana de Hermosa Beach, em julho de 70. Ao lado de Morgan, e além do piano de Mabern, encontra-se Bennie Maupin em sax tenor, Jymmie Merritt em contrabaixo elétrico, e a bateria intensa mas não impositiva de Mickey Roker. À exceção deste último, todos contribuem com composições para o registo.

“The complete live at The Lihgthouse”junta as gravações das várias atuações do combo ao longo de três dias. Os alinhamentos de cada prestação pouco mudam mas, tratando-se da arte do improviso, há novas tangentes, diálogos distintos e cadências reinventadas em cada entrega.

Perto de um fim improvável (o trompetista foi baleado em Nova Iorque pela companheira, Helen Moore, após uma discussão num intervalo entre concertos, falecendo antes da chegada da ambulância) e rodeado de artesãos no mesmo nível de excelência histórica, Lee Morgan é o maestro de cavalgadas estonteantes mas sempre elegantes, dinâmicas, respirando modernismo e um groove que fala pontualmente com sotaque latino. O homem que tanto gravou com Art Blakey e Hank Mobley, Dizzy Gillespie e Jimmy Smith, e que se encontra no elenco de “Blue train” de John Coltrane (1958) chegou muito longe, muito depressa.