Tiago Oliveira, o sindicalista que adora alturas e sardinhas assadas

Tiago Oliveira é secretário-geral da CGTP/Intersindical

Filho de dirigente sindical, desde cedo lhe seguiu os passos. Deixou a escola no 9.º ano, foi mecânico e militar paraquedista. Vai mudar-se, a custo, para Lisboa.

No discurso de encerramento do congresso que o consagrou secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira leu um longo texto de 18 mil carateres. Mas, mais do que a palavra, o que o sucessor de Isabel Camarinha prefere é a ação concreta, ele que desde cedo se dedicou ao sindicalismo e se viu envolvido em campanhas de defesa dos direitos dos trabalhadores, algumas delas em grandes empresas.

“Temos um caderno de encargos grande pela frente, mas já estamos habituados”, disse a páginas tantas. “É cansativo? Sempre foi. Mas foi para outros no passado e fizeram-no precisamente pelo mesmo motivo que o fazemos hoje: é a nossa luta, são os passos imprescindíveis para a construção do futuro que merecemos”, acrescentou, depois de confirmado no cargo sem votos contra, apenas 25 em branco.

“Nunca tive a ambição ou sequer o sonho de chegar a secretário-geral da CGTP. Não disse que sim à primeira”, admite à “Notícias Magazine”. Falou com a mulher e a filha, Inês, que frequenta a licenciatura em Ação Social, consultou os pais, ouviu conselhos. “A força e o alento da família é que me fizeram aceitar a mudança quase permanente para Lisboa e o consequente afastamento do seio familiar”, garante.

Aos 43 anos, este matosinhense de São Mamede de Infesta, de cuja Junta de Freguesia é membro eleito pela CDU, cargo que irá agora abandonar, vai liderar uma estrutura pesada que representa um total de 556 mil trabalhadores. “Sinto-me preparado e incentivado pela confiança dada pelos meus camaradas”, assegura. É o mais novo líder da CGTP desde o histórico Carvalho da Silva, que contava 38 primaveras quando ficou à frente da central sindical. A idade poderá abrir-lhe portas para continuar no cargo durante mais duas décadas, segundo os estatutos da Intersindical. E, quem sabe, para subir na hierarquia do PCP, partido de que é militante e membro do Comité Central.

Tiago Oliveira deixou de estudar no 9.º ano por “necessidades familiares”, andava então na EB 2/3 de Custóias. Foi tirar o curso profissional de Eletromecânica. Aos 17 anos, leu um anúncio num jornal que lhe mudou a vida. “A Auto Sueco pedia mecânicos de pesados. Não olhei para trás. Concorri, fiquei como aprendiz e fui subindo”, descreve. Pelo meio, cumpriu um ano e meio de serviço militar como paraquedista em Tancos. Saltou dez vezes, sentiu o que nunca tinha sentido. “Uma sensação imensa de liberdade, um sentimento de coragem”, diz.

O sindicalismo acompanhou-o desde o berço. Filho de Américo Oliveira, também ele dirigente sindical, viu no pai figura forte de exemplo. “Foi sempre uma grande referência e o Tiago inspirou-se nele para seguir o percurso dentro do sindicalismo de uma forma quase natural”, aponta um antigo companheiro de luta.

Foi delegado sindical com 23 anos e integrou a direção do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Trabalhadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte com 26. Deixou a Auto Sueco e passou a sindicalista a tempo inteiro. Integrou, também, a direção da União de Sindicatos do Porto (USP), cuja direção assumiu em 2016. Até hoje – será substituído em breve, por força das novas responsabilidades na CGTP.

“Foi sempre alguém muito disponível para a causa sindical e com pouco tempo livre para ele próprio”, conta João Torres, antecessor de Tiago na USP. Nas escassas horas vagas que lhe restam, gosta de desafiar os amigos para uma jantarada de sardinhas assadas, o prato favorito, em Matosinhos, ou para uma caldeirada em Esmoriz. “De vez em quando íamos, também, assistir a um jogo do nosso Benfica quando o clube vinha jogar ao Norte”, recorda. Que não tem dúvidas: “Disse sempre aos mais céticos que o Tiago seria melhor do que muitos esperavam. Tenho a certeza deque, ao contrário de alguns, as luzes da ribalta e a exposição máxima que terá enquanto estiver à frente da CGTP não o vão inebriar”.

Tiago Oliveira promete que “o espírito de responsabilidade e a capacidade de entrega continuarão os mesmos”. E que continuará a ver “na ligação aos trabalhadores e na sua reciprocidade” aquela que considera a sua maior realização pessoal.

Cargo: secretário-geral da CGTP/Intersindical
Nascimento: 02/11/1980 (43 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Matosinhos)