Jorge Manuel Lopes

Dois anos na vida de Naomi Osaka

Naomi Osaka (Foto: Tiziana FABI/AFP)

Crítica de documentário, por Jorge Manuel Lopes.

As primeiras imagens de “Naomi Osaka”, minissérie documental de três episódios da Netflix, vêm do arquivo e mostram a tenista japonesa-haitiana-americana a treinar com tenra idade. Naomi viajou do Japão para os Estados Unidos aos três anos, encetando um percurso que faz dela, hoje, uma das desportistas mais famosas do Planeta, com marca profunda nos courts e também no ativismo político, na moda, em causas sociais.

A obra realizada por Garrett Bradley acompanha a vida de Naomi Osaka desde a primeira conquista de um torneio do Grand Slam (Open dos EUA, 2018, contra Serena Williams) até ao retorno triunfal a Nova Iorque em 2020. Abundam as imagens de bastidores, incluindo dos telemóveis da tenista. Falam os pais, a irmã, o namorado, os treinadores. Nessa baliza temporal, a série encontra um arco narrativo de vitórias-derrotas-vitórias mas, sobretudo, de refinamento da identidade e de aprendizagem a lidar com a pressão de ser o recetáculo desportivo do trabalho de uma vasta equipa.

Há três anos, Osaka descrevia a atenção mediática que a rodeava como “ridícula”. Além da intensidade dos treinos, também se assiste nestas quase duas horas a um metódico derrubar do muro das mansas expectativas, navegando contra a correnteza da neutralidade obediente que (ainda) se espera de muitas jovens sob os holofotes do estrelato. É vê-la na Semana da Moda de Nova Iorque em 2019, na apresentação da coleção de roupa que criou com a designer Hanako Maeda para a marca ADEAM. Participando numa marcha Black Lives Matter após o homicídio de George Floyd, um evidente toque de despertar político. E percorrendo o Haiti, a terra do seu pai, onde a Osaka Foundation permite que crianças tentem os primeiros passos entre bolas e raquetes. Não lhe falta lucidez: perante vastos desafios globais, diz Naomi Osaka, “o ténis não é importante para nada”.