Tiago Fleming Outeiro: O bioquímico que esmiúça as origens do Parkinson

Texto de Sara Dias Oliveira

Na escola, vivia fascinado com os mistérios da Biologia e da Saúde, gostava desse mundo e enveredou por essa área. Licenciou-se em Bioquímica na Universidade do Porto, fez Erasmus na Universidade de Leeds, no Reino Unido, doutorou-se e fez várias especializações nos Estados Unidos da América, voltou a Portugal, deu aulas na Faculdade de Medicina de Lisboa, foi diretor da Unidade de Neurociência Celular e Molecular do Instituto de Medicina Molecular em Lisboa. Em 2010, com 33 anos, foi convidado para professor catedrático e diretor do Departamento de Neurodegeneração da Universidade de Medicina de Göttingen, na Alemanha, onde se mantém, continuando ligado ao país de origem, como professor convidado de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Lisboa. “O que mais me fascina na ciência é a liberdade para tentar encontrar respostas para problemas que ainda não estão resolvidos”, revela. “O limite é a nossa imaginação”, acrescenta.

Tiago Outeiro quer perceber o que acontece na doença de Parkinson para tentar evitar danos e desenvolver novas terapias. Liderou uma equipa internacional de cientistas que veio a constatar que duas proteínas, associadas ao Parkinson, interagem e reagem a mutações genéticas. Mais um passo dado em futuros tratamentos. Continua a estudar a fundo por que razão em determinadas doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, aparecem aglomerados de proteínas no cérebro, por que é que isso acontece, e consequências deste processo. “Testamos formas de impedir que o aglomerado de proteínas se espalhe pelo cérebro”, explica. É uma maneira de tentar travar a progressão da doença. “São passos pequenos que nos vão aproximando do que poderá ser um tratamento para a doença”, sublinha. E, por isso, orienta ensaios clínicos para entender que papel terá a remoção dessas proteínas no curso da doença.

A dedicação à causa não tem passado despercebida. A Fundação Michael J. Fox, que o ator com o mesmo nome criou nos Estados Unidos e que sofre de Parkinson, reconheceu o trabalho e já lhe atribuiu, por duas vezes, financiamento para projetos ligados ao estudo da doença, nomeadamente para entender de que maneira a desregulação da expressão genética contribui para o desenvolvimento da patologia que, neste momento, atinge seis milhões de pessoas, cerca de 20 mil em Portugal. O Ministério da Saúde também já lhe atribuiu uma medalha de prata pelas investigações em torno da doença que definha o corpo e afeta as capacidades cognitivas.

Tem 42 anos, nasceu em Matosinhos, andou por vários países, está na Alemanha, coordena um departamento que reúne cientistas portugueses, gregos, chineses, espanhóis, chineses, brasileiros, iemenitas, entre outras nacionalidades. “A ciência é um processo global, é um trabalho que envolve muita gente de todo o Mundo.” A sua vida, o seu mundo.