O meu objeto: o relógio de António Sala

António Sala, um dos maiores comunicadores portugueses, está a percorrer o país com o espetáculo em que celebra os 60 anos de carreira. A 18 de maio, atuará no Multiusos de Guimarães

O objeto escolhido pelo locutor, apresentador e cantor António Sala.

“Estávamos a entrar em 1965. Teria 15 para 16 anos e era um jovem trabalhador-estudante. Repartia as minhas horas entre as aulas pouco motivadoras e os primeiros passos no mundo fascinante da rádio, que tanto me entusiasmava. Um dia, no Bairro da Graça, em Lisboa, nos estúdios da Rádio com o nome do bairro, apareceu um vendedor de porta a porta, muito habitual naqueles tempos. Trazia uma gorda pasta preta com vários relógios para vender. Fiquei completamente encantado! E os meus olhos ficaram hipnotizados num deles. Que objeto mágico! Perguntei, em voz sussurrada e quase a medo, quanto custava. A resposta veio em tom comercial: ‘Oitocentos escudos’. Oitocentos escudos era tudo o que eu ganhava a trabalhar durante um mês inteiro. E o dinheiro ia totalmente para as mãos da minha mãe e da minha avó, que com habilidade e esforço o tentavam esticar.
Aquele relógio seria impossível. Desisti. Só que o vendedor olhou para mim, sorriu e afirmou: ‘Mas pode pagar em quatro prestações de 200 escudos por mês’. Em segundos tomei a decisão e disse-lhe: ‘Então o relógio é meu!’. E é realmente meu há quase sessenta anos. Nunca falhou. Está como novo. Foi o meu primeiro relógio e uso-o sempre no dia do meu aniversário. Foi ele que me fez apaixonar por relógios. Não é, nem de perto nem de longe, o melhor ou o mais valioso dos relógios que tenho, mas é o primeiro objeto marcante da minha vida. O seu valor afetivo é incalculável. Não há preço que o pague.”

Locutor, apresentador e cantor
75 anos