Os tratados, os objetivos e a sensibilidade da Terra

(Foto: Freepik)

O "Consultório de Sustentabilidade" desta semana, por Joana Guerra Tadeu.

Afinal, quanto aqueceu a Terra? Que diferença podem fazer 2°C?
Rui Pereira

Tendo em conta que, neste momento, as temperaturas mais altas e mais baixas da Terra estão provavelmente separadas por mais de 55 °C, pensar que 2 °C de diferença na temperatura média do Planeta pode acabar com a vida como a conhecemos é desconcertante. Há um dado que pode ajudar a perceber quão sensível o sistema terrestre é a variações de temperatura na média global: a diferença da última era glacial, há 20 mil anos, para agora, é de apenas 6 °C!

Para saber qual a temperatura média global, inúmeros pontos espalhados pelo Globo recolhem medições que depois são analisadas por vários grupos de investigação. Apesar de diferentes análises poderem dar resultados diferentes, uma revisão de todas elas mostra uma tendência inequívoca de aquecimento global.

Temos destes registos diretos da temperatura média global desde 1850 e, a partir de 1879, a Organização Mundial Meteorológica (OMM) começou a compilar e a padronizar os dados meteorológicos globais. Entre 1880 e 1900, a chamada era pré-industrial, a temperatura média da Terra era de 13,63 °C; este é o valor de referência usado no Acordo de Paris, um tratado internacional adotado no âmbito da Convenção‐Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que entrou em vigor em 2016, com 195 países signatários a comprometerem-se a tomar medidas para manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2 °C, em relação aos níveis pré‐industriais; abaixo de 1,5 °C, de preferência.

Nos anos 1930, detetou-se uma tendência de aquecimento global desde o final do século XIX e, em 1960 a temperatura média do Planeta subiu aos 13,9 °C. Em 2020, a temperatura global média já era de 14,8 °C e, em 2023, chegámos aos 14,98 °C. Nos últimos 50 anos, a temperatura global aumentou a uma taxa média de 0,13 °C por década, quase duas vezes mais rápido que o aumento de 0,07 °C por década observado no meio século anterior.

A OMM oficializou 2023 como o ano mais quente de que há registo e 2024 deverá ultrapassá-lo. O trabalho de paleoclimatologistas – que estudam o clima através de dados indiretos extraídos de núcleos de gelo, anéis de árvores, núcleos de sedimentos e corais – permite-nos afirmar, ainda, que 2023 foi o ano mais quente dos últimos 120 mil anos.

Temos cientistas a afirmar que o limite de 1,5 °C, ratificado no Acordo de Paris, está morto. O aumento de temperatura está a resultar em seca e escassez de água, stress térmico, doenças transmitidas por novos vetores, inundações costeiras e fluviais e todas as consequências que estes eventos têm sobre a agricultura, a pesca, a economia e a qualidade de vida das pessoas. Como evitamos tudo isto? Deixando de queimar combustíveis fósseis.

*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, Jardinagem, Saúde, Finanças Pessoais, Sustentabilidade e Sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected].