Matteo Salvini: o déspota milanês

Foto: Alessandro Garofalo/Reuters

Texto de Alexandra Tavares-Teles

“Tanti nemici, tanto onore.” Muitos inimigos, muita honra. Há um ano, Matteo Salvini replicava no Twitter, à laia de orgulhoso lema de vida, as palavras atribuídas originalmente a Benito Mussolini. Na verdade, em nada espanta o encantamento do vice-primeiro ministro de Itália (com a pasta do Interior) pelo ditador e são diversas as declarações em que revela grande simpatia pelos “aspetos positivos” da ditadura fascista.

Líder da extrema-direita, figura de autoridade com tiques de déspota, perfil xenófobo e traço racista – um dos seus ministros, Lorenzo Fontana, com a pasta da Família, propunha-se revogar a lei que criminaliza o discurso de ódio, a promoção da discriminação racial e o fascismo -, tem inimigos bem definidos: os imigrantes, os opositores, os jornalistas, a comunidade LGBT, os burocratas e banqueiros da União Europeia.

As redes sociais são veículo preferencial de propaganda, especialmente Facebook e Twitter, onde publica uma média de seis vezes por dia, seguido por fãs rendidos ao lema do homem que tem em Donald Trump (EUA), Marine Le Pen (França), Geert Wilders (Holanda) e Bolsonaro (Brasil) apoiantes de peso e em Vladimir Putin um modelo: “Os italianos primeiro”. O homem que, agora, em luta pelo assalto ao poder, pode tornar-se o primeiro líder da extrema-direita a governar um país da Europa democrática.

Nascido em Milão, Matteo Salvini, filho de um gerente de loja e de uma dona de casa, cresceu numa família da classe média do norte. Apesar de ser acérrimo da extrema-direita, foi à esquerda que se ligou inicialmente, nos movimentos juvenis. Custeou os estudos no Secundário, entregando pizzas ao domicílio e trabalhando em restaurante de fast-food.

Estudante de Ciências Políticas e de História, deixaria a universidade em 2008, com o curso incompleto, para assumir o lugar na Câmara dos Deputados. Era o corolário da primeira fase do percurso político, iniciado em 1993, com eleição para vereador da cidade natal, apenas três anos após a filiação na Liga Norte, partido regionalista, antissulista, que Salvini viria a alterar profundamente. Desde logo, mudando-lhe o nome – passaria a ser apenas Liga. Mas, sobretudo, criando novo inimigo – o que vive do outro lado do Mediterrâneo – e novo medo: chegarão a Lampedusa para roubar os italianos.

Jornalista no jornal e na rádio da Liga Norte desde 1997, conseguiu notoriedade com intervenções contra as elites (banqueiros, políticos, intelectuais) e as minorias (as comunidades cigana e LGBT). O populismo deu frutos. Quando assumiu os destinos da Liga Norte, em 2013, o partido valia 4%. Seis anos depois, Salvini tem fortes possibilidades de vir a liderar o próximo Governo do país.

Em férias com os dois filhos (Federico, de 16 anos, e Mirta, de seis) em Milano Marittima, na Riviera Adriática, tem sido protagonista de eventos que geraram controvérsia, como o passeio do filho em mota da polícia marítima. Porém, a popularidade não baixa. Apesar de se afirmar católico, a maior força de oposição tem vindo da Igreja e do Papa Francisco. Em julho, a revista Famiglia Cristiana colocava Salvini na capa. Com a frase: “Vade Retro Satanás”.