Elisabete Malafaia: no reino dos dinossauros

Elisabete Malafaia, 40 anos, dedica-se à divulgação da ciência que é produzida no Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa. (Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Texto de Sara Dias Oliveira

Cresceu no campo, na aldeia, com animais ao pé, corria atrás de alguns bichos, sobretudo cobras, que apanhava para colocar em frascos com álcool. Os olhos de criança brilhavam perante a palpitante vida animal e seus mistérios. O fascínio não desapareceu ao longo do tempo. Pelo contrário, intensificou-se. As brincadeiras de miúda de Elisabete Malafaia tinham razão de ser.

Sai de Oliveira de Frades, onde nasceu, para estudar Geologia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, torna-se mestre na mesma área, especializada em sedimentologia, estratigrafia e paleontologia, na Faculdade de Ciências de Lisboa, onde, anos mais tarde, tira o doutoramento.

A paleontologia atravessa-se no seu caminho depois da licenciatura durante uma escavação, pés no terreno, olhos abertos para o que existe debaixo da terra, coração a saltitar. Até então nunca lhe tinha passado pela cabeça que, afinal, o mundo dos bichos podia fazer parte da sua profissão. “Sempre gostei das ciências naturais, cresci no campo”, recorda.

Começa a trabalhar nesse meio, participa em escavações no país e lá fora, em Guadalajara e Cuenca, em Espanha, e no Utah e Arizona, nos Estados Unidos, onde percorre museus em diferentes estados. Integra equipas de prospeção e escavação de fósseis de dinossauros e outros vertebrados do Triásico Superior.

Em Portugal, analisa ao pormenor ossos fossilizados de vertebrados do Jurássico Superior, dedica-se aos dinossauros que viveram por cá há 150 milhões de anos. “Os animais nessa altura eram totalmente diferentes – quase como animais fantásticos. Como viviam, como se organizam entre si, como era o seu metabolismo, como suportavam o peso, como caçavam, foram os aspetos que me chamaram a atenção”, revela.

Foca-se num grupo específico de dinossauros, surpreende-se com a diversidade que encontra, faz descobertas importantes. “Encontrámos muitos grupos diferentes numa área relativamente pequena.”

Contribui para a descrição de uma nova espécie de dinossauro ornitópode, aumenta o conhecimento sobre diferentes faunas. Estuda um conjunto de fósseis de um dinossauro carnívoro descoberto em Torres Vedras, ajuda a refazer o crânio de um dinossauro descoberto em Pombal. Assina artigos e publica o que vai descobrindo em prestigiadas publicações internacionais. Colabora na curadoria de coleções de paleontologia e na produção de exposições e conteúdos educativos e de divulgação de ciência, coordena estágios e programas de voluntariado, participa em congressos.

Elisabete Malafaia, geóloga e paleontóloga, de 40 anos, dedica-se neste momento à divulgação da ciência que é produzida no Instituto Dom Luiz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O fascínio pela descoberta é um bichinho que não lhe sai do corpo.

“A descoberta gradual é a parte mais interessante, o mais emocionante neste trabalho.” Conta que os dinossauros não eram todos gigantes, tiveram vários tamanhos, e que, na verdade, não se extinguiram, deram origem a todas as aves que hoje andam no céu. O que está nas entranhas da terra pode ser um ponto de partida para refazer parte da história. E é isso que quer continuar a fazer.