“É um orgulho ser a primeira bebé proveta”

Louise Brown nasceu no Hospital de Oldham e o acontecimento gerou expectativas elevadas na Grã-Bretanha e em todo o mundo.

Texto de Pedro Emanuel Santos

Há um antes e depois de 25 de julho de 1978, dia em que o mundo ficou a conhecer Louise Joy Brown, o primeiro ser humano concebido a partir de fertilização “in vitro”.

Filha de Lesley e John Brown, Louise nasceu no Hospital Central de Oldham, nos arredores de Manchester, na Grã-Bretanha, com 2,6 quilos e depois de uma cesariana que decorreu sem problemas de maior. Hoje vive em Bristol, é casada desde 2004 com Wesley, um segurança, mãe de dois filhos (Cameron, 11 anos, e Aiden, de quatro), enfermeira de profissão e uma mulher feliz por ter feito história.

“Tenho muito orgulho em ter sido a primeira bebé-proveta de sempre”, garante Louise Brown à “Notícias Magazine”. “De resto, não há nada de especial em relação a mim”, afirma. “Trabalho cinco dias por semana, no final do dia vou para casa ter com a minha família. A única diferença é que recebo frequentemente solicitações de todo o mundo por ser a primeira bebé concebida artificialmente.”

Louise foi o resultado de um processo que viria a revolucionar globalmente os conceitos da reprodução. Lesley, então dona de casa com 31 anos, e John, ferroviário de 35, tentaram conceber um filho durante nove anos. Sem sucesso, devido a um problema grave nas trompas de Falópio de Lesley. Até que o ginecologista Patrick Steptoe lhes propôs a inovadora fertilização “in vitro”. A ideia era remover ovócitos de Lesley, fertilizá-los com o esperma de John e voltar a introduzi-los no corpo da futura mãe. O método valeria o Nobel da Medicina a Steptoe e foi pontapé de saída para os oito milhões de bebés-proveta nascidos desde então no mundo.

Louise é hoje enfermeira, vive na cidade de Bristol e tem dois filhos concebidos naturalmente.

O único senão numa gravidez sem complicações de maior foi a decisão de antecipar o parto, previsto para 4 de agosto, depois de Lesley apresentar sinais de toxemia, problema que impedia a normal oxigenação da bebé.

Acabou tudo por correr tão bem que Louise se tornou um exemplo global. E não se importa nada com isso, bem pelo contrário. Já escreveu livros, dá palestras, abraça quem também foi gerado de forma não tradicional.

“Toda a minha vida concentrei atenções dos media e do público em geral, o que é natural. Aliás, tenho viajado pelo mundo inteiro para me encontrar com pessoas que também nasceram através do mesmo processo, o que tem sido particularmente entusiasmante”, descreve. “Este ano tenho tido mais convites por fazer 40 anos, uma correria. Mas é muito bom.”

Se atualmente a fertilização “in vitro” é aceite com naturalidade, em 1978 levantou ondas de dúvidas. O futuro Papa João Paulo I disse temer que as mães passassem a ser “fábricas de filhos”, e outras confissões fizeram manifestações contra o que entendiam ser um desvio da ordem natural das coisas.

Do lado popular, a expetativa em redor do nascimento de Louise Brown era tanta que originou romarias à porta do Hospital Central de Oldham. As teorias abundavam e nem todas eram otimistas. Dizia-se que Louise não seria uma bebé perfeita, que teria malformações.

“Sou perfeitamente normal. Se tive problemas enquanto bebé, eles foram incorretamente atribuídos ao facto de ser bebé-proveta. Sempre fui igual a qualquer outra pessoa”, assegura Louise, mãe de família prestes a completar 40 anos e que um dia fez história ao ser a primeira bebé proveta de sempre.