“Só para o caso Marquês eu precisava de uns seis mandatos”

Notícias Magazine

Esta semana nas entrevistas que nunca fiz tenho, supostamente, comigo a ainda procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal…
Esse “ainda” é capaz de estar a mais.

Eu disse “ainda” porque presumo que já não vai ser por muito mais tempo. Desculpe-me o trocadilho mas, isto da Justiça, ainda não é o da Joana. Resumindo, se bem me recordo, a senhora foi a primeira a dizer que o mandato de Procuradora devia ser só um, e eu confio na Justiça.
É verdade, realmente eu disse que o mandato de procuradora-geral da República devia ser só um, mas, se formos bem a ver, com a lentidão da nossa Justiça, um mandato não dá para fazer nada. Só para o caso Marquês eu precisava de uns seis mandatos, ou que descobrissem o segredo da vida eterna.

Não me diga que já põe a hipótese de continuar o seu mandato. Isso seria uma coisa nunca vista. Seria um recorde no nosso país, o que, em princípio, dava direito a uma medalha do nosso Presidente da República. Quer-me parecer que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é dos que mais tem pressionado para que a senhora continue.
Acha? Eu não senti essa pressão. Uma procuradora não pode sentir pressão.

Ilustração: Marco Mendes

Acho. Aliás, dá-me a sensação que para ele é mais certo a senhora fazer um segundo mandato que ele próprio. Nem me admirava que ele dissesse que só concorre a um segundo mandato se a senhor continuar com o seu. Ele gosta muito de fazer uma espécie de chantagem com os portugueses. Eu já pensei que só lhe falta dizer que se a senhora não continuar como procuradora-geral acabaram-se os abracinhos; pelo menos, os abraços ao António Costa.
Se calhar ele precisa de um banho de água fria para acalmar.

Eu acho que ele já toma banhos que chegue, e não vai aceitar levar uma banhada dessas do PM. Aqui entre nós que ninguém nos ouve, só nos leem: a senhora põe a hipótese de, se as pessoas insistirem muito, continuar e fazer um segundo mandato?
Quer dizer… hum… se não houver mais ninguém, eu posso dar um jeitinho. Já tinha umas coisas combinadas mas se tiver que ser…

Mas isso dá a sensação que a Justiça está tão mal que nem sequer há mais ninguém que possa ser procurador-geral da República. Imagine se a senhora é atropelada. Ou se lhe cai em cima um daquelas montanhas de dossiês. Ficamos sem procurador? Não pode ser. Para si, quem é que tem o perfil ideal para o seu cargo?
Não vou dar palpites, mas sinceramente acho que o principal era ser uma pessoa que não fosse alérgica ao pó. Um magistrado com asma não aguenta a quantidade de pó que se acumula nos nossos processos.