Lili Caneças: “Até aos 95 anos tenho dinheiro para fazer a minha vida”

Fez do jet set uma forma de vida e completa 80 anos, esta quinta-feira, dia 4 de abril. Garante que viveu tudo o que queria e sonhou. Esteve na faculdade, abandonou o curso para trabalhar na TAP e acabou também a largar os voos. Casou com um homem rico, correu o Mundo e festas da alta sociedade que a projetaram para as revistas cor-de-rosa. O divórcio foi um escândalo num país conservador, ficou sem um tostão, reergueu-se, vendeu camisolas, fez televisão, teatro. E promete não parar. Em miúda, era uma “Barbie” e nunca abdicou da beleza, prova disso são as cirurgias estéticas que celebrizou. Lili Caneças, ou Maria Alice, é, como ela própria diz, Alice no País das Maravilhas.

É uma da tarde, Lili Caneças está de fato de treino preto da Puma, ainda a ser maquilhada. Recebe-nos numa penthouse do Hotel Grande Real Villa Itália, em Cascais, a vila de reis e pescadores que não deixa de amar. “O meu apartamento fica do outro lado da rua”, comenta. Para logo depois dizer que será neste hotel que vai gravar o podcast que pretende lançar. Veste, então, um vestido longo e uns saltos altíssimos (não pode ser de outra forma), domina as poses para a fotografia, tem sentido de humor e a elegância de uma eterna socialite. Continua a ir a festas internacionais, não se cansa. Já chegou a celebrar o aniversário no Mónaco, mas desta vez não vai convidar ninguém, a não ser os dois filhos, para assinalar os 80 anos na Herdade do Peru. “Gasto sempre um balúrdio e ninguém retribui”, justifica. É capaz de passar horas a fio à conversa e no final da entrevista sai ao volante do seu Seat Ibiza cinzento, a acenar.

O corpo ainda não deu sinais, começou por dizer quando agendámos esta entrevista. Não se sente com 80 anos?
Não me sinto. Até digo que não é possível, porque o meu espírito é tão jovem. Vou três vezes por semana ao ginásio, também nado, tenho cuidado com a alimentação, durmo oito horas, o meu corpo ainda não me disse que tenho de parar porque estou velha. Então acho que ainda sou uma jovem (ri).

Não abdica de envelhecer saudável?
Cuido-me, porque gosto muito de mim e sei que a única pessoa que vai estar comigo até ao fim da vida sou eu. Fumei até me divorciar, aos 37 anos, deixei de um dia para o outro. Pensei que tinha de estar com os sentidos apurados porque passei de ser milionária a não ter um tostão e sentia que quando fumava o meu corpo ficava adormecido. Também tinha o hábito de beber um uísque quando chegava a casa, até nisso cortei. Nem uísque, nem fumar, noitadas nunca mais. Troquei as discotecas pelo ginásio, os copos pela água. E aqui estou eu, Lili, Maria Alice de Carvalho Monteiro, aos 79 anos.

(Foto: Leonel de Castro/Global Imagens)

Maria Alice de Carvalho Monteiro. Ainda se reconhece nesse nome?
Reconheço, mas na verdade nunca me chamaram Alice. Desde que nasci que sempre ouvi Lili. O meu irmão mais velho, que é arquiteto e fez a minha casa na Quinta da Marinha, onde vivi com os meus filhos, não conseguia dizer Alice, dizia Lili. Na escola, na universidade, toda a vida me chamaram Lili. Portanto, Lili, oui c’est moi.

Nasceu a quatro do quatro de 1944, às quatro da tarde.
Toda a gente sabe, não posso esconder a minha idade. Às vezes, vou na rua em Cascais e gritam-me “Ó Lili, somos da mesma idade, boa colheita, estás fantástica” (ri). E é verdade, estou estupenda. Também porque ando sempre a olhar para a frente. O Thiago Justino, da Globo, que foi meu professor de projeção de voz e teatro, disse-me uma vez que os velhos, a partir de uma certa idade, começam a andar curvados, a olhar para o chão, com medo de cair. E pensei para mim que nunca vou andar marreca, vou andar sempre a olhar para a frente. Evidentemente que, como ando sempre com uns saltos enormes, às vezes dou cada queda. Mas da mesma forma que caio, também me levanto.

A propósito do teatro, foi aos 64 anos que se estreou como atriz. Foi desafiada pelo encenador Carlos Avilez a participar na peça de Tennessee Williams “Doce pássaro da juventude”. A idade nunca foi travão para nada?
Nunca. Foi no Teatro Experimental de Cascais, o Thiago foi meu professor lá. Durante três horas e meia estive sempre em cena, foi uma das grandes felicidades da minha vida. Adoro Tennessee Williams, é para mim o maior dramaturgo. O Carlos Avilez perguntou-me quando tinha sido a última vez que tinha decorado textos, e disse-lhe que tinha sido há quase 50 anos, quando estava na Faculdade de Letras de Lisboa a fazer Filologia Germânica. A verdade é que consegui. Fazia como quando era miúda, na primeira vez lia, na segunda sublinhava, e à terceira já conseguia decorar.

Tinha jeito para a representação?
Muito. A minha vida tem sido um palco. Apesar de ninguém me chamar Maria Alice, eu sou Maria Alice. Ao mesmo tempo, vivo com a Lili Caneças. A Lili Caneças é a figura pública que toda a gente conhece, que está sempre bem-disposta, sempre a rir. Mas não estou 24 horas sobre 24 horas assim, a Alice chora, a Alice sente-se sozinha, às vezes não está bem. Depois, tenho a Lili Caneças que me faz rir, que diz tudo como os malucos.

Diz mesmo?
Hoje digo tudo o que penso. E cheguei a uma altura da vida em que só faço o que me apetece. Já aprendi a dizer não. Não deixo que ninguém me enerve, as únicas pessoas que me podem enervar são os meus filhos.

A Lili é uma persona que não entra em casa?
Para dizer a verdade, estou quase sempre em Lili Caneças. Dou graças, quando me levanto, a ter tido uma vida privilegiada. A minha mãe dizia que a vida é uma festa, cabe-te a ti ser convidada para ela. E eu fui convidada para essa festa.

A infância também foi privilegiada?
Quando era miúda, o meu pai era comandante da Marinha de guerra, numa época em que as Forças Armadas eram bem pagas. Há pessoas que me dizem que tive sorte. Mas, se tivesse nascido pobre, tinha ido servir para casa de uns senhores ricos que me tratassem bem, para fora, porque no tempo do Salazar toda a gente emigrava, Portugal era tão pobre que as pessoas para comerem tinham de emigrar. Se a minha vida tivesse sido isso, hoje não seria a Lili Caneças, seria a Lili outra coisa qualquer. E, se calhar, falava na mesma seis línguas e também teria três cursos.

Gosta de realçar isso.
Fui tirando cursos enquanto fui casada. Fiz um curso de Decoração de Interiores, fiz outro de Ikebana, arte floral japonesa. Só não cheguei a acabar Filologia Germânica, porque fui para a TAP.

Que línguas fala?
Sou bastante qualificada. Falo português, francês, italiano, espanhol, inglês e alemão. Aprendi no liceu e na universidade.

Lili Caneças ao colo da mãe, que foi pianista clássica e a pessoa que mais a marcou na vida. Morreu quando a socialite tinha 30 anos
(Foto: DR)

É filha de uma pianista clássica, que morreu quando a Lili tinha 30 anos. De que forma essa perda a marcou?
Nessa altura, pensei que, se não fosse pelos meus filhos, gostava de ter ido com ela. Não que tivesse essa coragem, mas perguntei-me como é que vou viver sem a minha mãe. Antes de morrer, ela vivia na Parede e eu em Cascais, na Quinta da Marinha. Podia ter a casa cheia de gente, com convidados, mas chegava às três da tarde e encontrava-me com a minha mãe no Deck Bar, quer chovesse, quer fizesse sol, todos os dias. Eram as melhores horas do meu dia.

O pai era oficial da Marinha. A educação foi rígida?
Super-rígida. Do meu pai herdei o caráter, o sentido ético, a coragem, o amor à pátria. Da minha mãe herdei a alegria, o amor pelas artes, pela música, pela pintura. Os primeiros sons que ouvi foram de Mozart, de Liszt, de Chopin, adorava que ela tocasse os noturnos de Chopin para mim. Foi a pessoa que mais me marcou na vida, que mais me amou. Educou-me para ser uma princesa e casar com um príncipe. Porque eu era uma autêntica Barbie, muito bonita.

A beleza, herdou dela?
Tanto o meu pai como a minha mãe eram morenos, de olhos escuros. Mas ela era lindíssima, parecida com a Betty Faria, a atriz da Globo. Eu saio ao pai da minha mãe, que tinha olhos azuis e era muito branquinho.

Em matéria de beleza, já fez várias cirurgias estéticas, o que assume sem pudores. Há 24 anos, o célebre peeling que fez em Madrid até fez manchetes de jornais.
Foi abertura de todos os telejornais, no dia em que o Jorge Sampaio se candidatava ao segundo mandato, imaginem. Ora, eu passava horas ao sol, adorava viajar para ilhas, Bahamas, Seychelles, Maurícias. Além disso, cresci na Parede, e via numa parte da praia pessoas em tabuleiros a apanhar sol no corpo para curar. Para mim, o sol era cura e claro que a pele envelheceu. O peeling foi doloroso, foi tirar a pele toda com ácido, passei dez dias numa clínica a beber por uma palhinha. Quando o fiz, sugeriram-me uma permuta e dei uma conferência de imprensa a anunciar. O telejornal da TVI foi para o ar a um quarto para as oito só para mostrar primeiro a minha pele. Era muito bronzeada, tinha uma pele que parecia a dos pescadores, e apareci branca, branca, sem uma única ruga. Tinha 56 anos.

Recentemente, fez um lifting ao pescoço.
Porque detestava ver-me na televisão, a cara estava bonita e o pescoço cheio de rugas. Também já tinha feito uma blefaroplastia, para tirar o excesso de pele nos olhos.

Fala abertamente do assunto. Nunca tentou esconder?
Por que razão não haveria de falar? Comecei a viajar muito nova para o Brasil e lá era muito comum. Para mim ter rugas é a mesma coisa que ter os dentes podres. Falo abertamente porque tem de se desmistificar. Não faço cirurgias para parecer mais nova, toda a gente sabe a minha idade. É para me sentir bem. Há pessoas que dizem que cada ruga conta uma história, não preciso das rugas para isso, posso contar as histórias todas. E posso provar às pessoas que se pode envelhecer sem ser velho. Ou, como diz Manuel Pinto Coelho, chegar novo a velho.

Em criança, na praia, na Figueira da Foz, onde a família tinha uma casa de férias
(Foto: DR)

A beleza é assim tão importante?
Acho que sim. Seria incapaz de me apaixonar por uma pessoa muito feia. Há anos, numa exposição da Paula Rego, aqui em Cascais, disse-lhe que o que importa é a beleza interior, e ela respondeu-me “bullshit” (ri). E é verdade, primeiro o que importa é a beleza exterior. Antes de conheceres a pessoa, és atraída por algum traço físico.

Foi isso que a atraiu no seu ex-marido, o empresário Álvaro Caneças? Tanto que deixou a TAP, onde tinha começado a trabalhar aos 19 anos como hospedeira.
Ainda por cima, estava prestes a entrar na Pan American, que era o meu sonho. Ia viver para Nova Iorque. Naquela época, ser hospedeira de bordo da Pan American era como ser Cleópatra, rainha do Egito. Só que o meu ex-marido apareceu na minha vida.

Apaixonou-se.
Quando fiz 18 anos, fui a Roma de propósito para ver o Marcello Mastroianni, numa peça no Teatro Sistina. E quando conheci o meu ex-marido, ele era igual ao Marcello, lindo de morrer. Fez tanto charme comigo que três meses depois estávamos casados. Claro que deu asneira, porque eu era ligada à arte, à cultura, e o meu ex-marido era ligado aos negócios. Era de uma família de agricultores dos arredores de Lisboa, gente boa, e quando Lisboa começou a crescer, cresceu para cima dos terrenos dele. Em vez de vender tudo como área rústica, dividiu os terrenos e vendeu-os já com projeto aprovado. Assim fez uma fortuna. Dizem-me que o dinheiro não é tudo na vida, mas as coisas que fiz e a que tive acesso em 17 anos de casamento…

Teve o privilégio de viver uma vida de luxo, de viajar por todo o Mundo, de frequentar festas da alta sociedade. O que é que isso lhe trouxe?
Então, eu vivia na Quinta da Marinha, numa casa fantástica com 1200 metros quadrados – hoje vivo num apartamento muito giro, mas é mínimo -, tinha cinco empregadas, andava num Jaguar E-Type cabriolet, viajava pelo Mundo e chegava à rua Faubourg-Saint-Honoré (Paris), entrava na Yves Saint Laurent, via a roupa e dizia quero este, este e este, nem perguntava o preço. Tive acesso a tudo, fui a todo o lado a que quis ir, conheci todas as pessoas que queria conhecer. O dinheiro serviu principalmente para dar uma ótima educação aos meus filhos. O João estudou na universidade do Frank Gehry, que fez o Guggenheim de Bilbau, é arquiteto. A Rita estudou em Londres e está a dar continuidade aos negócios do pai.

Depois veio o divórcio.
Pouco antes de sair de casa, o meu marido levantou-me as contas todas, cheguei ao banco e vi as minhas contas a zeros, não tinha dinheiro nenhum. No dia seguinte estava a vender pulôveres na loja de uma amiga. Nessa altura, as minhas amigas foram todas ver-me, porque a Lili Caneças que dava as melhores festas, que se vestia de alta-costura, de repente estava a trabalhar numa loja, e toda a gente queria ver.

Foi duro?
Tenho uma imaginação fantástica e para não pensar que estava no fundo do poço, quando estava na loja, que ficava em Colares, imaginava que estava em Saint-Paul-de-Vence, uma terra que amo no sul de França, onde viveu o John Steinbeck. Estava a vender camisolas, mas era livre. E o sentido de liberdade não tem preço.

Foi isso que motivou a separação, a falta de liberdade?
Foi isso mesmo, asfixiava com ele. E pensei, o que é que eu sou? Uma governanta? Vou ao supermercado, vou buscar os meus filhos à escola. Podia ter vivido a vida toda com um senhor muito rico, ou podia ter tido um divórcio litigioso e ele tinha de me sustentar. Mas não, quis sair com a roupa que tinha no corpo e começar de novo. A verdade é que ele só fez charme comigo quando queria casar, depois deu-me como dado adquirido. Não demonstrava grande afeto, grande amor. Achava até que o meu marido me odiava.

Lili com 15 anos, quando sonhava ir morar para os Estados Unidos e casar com Marlon Brando
(Foto: DR)

O divórcio, no início dos anos 1980, não era bem visto.
Foi um escândalo. Ainda por cima o meu ex-marido era muito bonito, eu estupenda, uma casa ótima, dávamos festas incríveis. As 200 pessoas que iam a minha casa e estavam lá todos os meses deixaram de me falar. Fiquei só com uma grande amiga, que ficou sempre do meu lado.

Mudou-se da mansão na Quinta da Marinha para um apartamento na Gandarinha. E reergueu-se.
Como tinha amigos em todo o lado do Mundo, ia para casa deles, só pagava a viagem de avião e continuava a viajar. E trabalhei sempre. Depois de vender camisolas, passei a trabalhar com o meu primo, que fazia gestão de fortunas, no mercado financeiro. Conhecia gente rica, tinha grandes conexões e essa gente vinha investir em Portugal. Tive uma vida muito mais interessante depois da separação.

Desde o início da adolescência, há 69 anos, que vive em Cascais. É conhecida como a tia de Cascais. Gosta do título?
Não me importo. Quem fez uma grande rábula com a tia de Cascais foi o meu amigo Herman José. Temos uma relação engraçada, ele adora-me, mas gozava com toda a gente.

Em Cascais, contactou com reis que aqui viveram exilados.
Contactei. E ainda sou muito amiga da irmã do Juan Carlos de Espanha, a infanta Margarida. Desde os 13 anos que nos conhecemos, ela é cega de nascença e íamos para o cinema, ela divertia-se a ouvir o barulho dos filmes. E para a discoteca. Tem ainda aqui um apartamento no Estoril.

Olhando à política, viveu toda a juventude na ditadura. Que impacto é que isso teve? Até ia a Paris ver filmes no tempo do Estado Novo.
“O Último Tango [em Paris]” nem passou cá, fui a Paris de propósito. Mas não era só eu. Havia excursões de autocarro. O filme foi tão badalado, tinha uma cena erótica, protagonizada pelo Marlon Brando e pela Marina Schneider, que nunca ninguém tinha visto. Aqui era tudo cortado. Ora, eu adoro cinema, via filmes de autor, de Fellini, de Pasolini, de Ingmar Bergman. Com 13 anos, não ia ao cinema para me entreter, ia para descobrir a filosofia da vida, sabia que ia ser dona do meu próprio destino.

Também mandava vir do estrangeiro livros banidos em Portugal.
Nessa altura, lia Kafka, D. H. Lawrence, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Françoise Sagan. Muita gente viajava e comprava para trazer, porque aqui não havia nada. E eu dava-me com gente muito interessante. Posso dizer que aos dez anos a minha melhor amiga era a Ana Salazar, uma visionária.

Vamos ao mundo da televisão, que faz parte da sua vida. Era uma ambição?
Nunca tive esse sonho. O Emídio Rangel é que me convidou para fazer o reality show “O Bar da TV” e deu-me tanto dinheiro. Precisava de ganhar dinheiro. Fui de vender camisolas para o mercado financeiro, do mercado financeiro para o imobiliário, e depois, por causa daquele momento em que Portugal parou devido ao meu peeling, o Rangel convidou-me para ser comentadora. Disse-lhe “você não está bom da cabeça, eu na televisão?” Fui. Depois, o programa acabou, porque era uma obscenidade, mas eu fazia aquilo com dignidade.

A televisão é sobretudo uma fonte de rendimento?
Sim. Ganhei tanto dinheiro que não era possível dizer que não. Tudo o que ganhei na televisão ainda está no banco. Porque depois o meu pai morreu e ele era poupadíssimo. Além de que gasto muito pouco. O apartamento onde estou é meu, só como saladas e peixe grelhado, roupa tenho às toneladas, o carro que tenho é um Seat, pago por mim. Passei de Jaguares e Mercedes para um Seat e não tenho problema nenhum com isso.

Estendida ao sol, em Ibiza, lugar de férias há décadas e para onde continua a ir pelo menos uma vez por ano numa viagem de família
(Foto: DR)

Vai continuar a trabalhar no pequeno ecrã?
Acabou agora a rubrica que tinha no programa “Em Família”, na TVI. E acho que não quero fazer mais televisão. Porque não me realizo culturalmente, ainda quero fazer algo que me dê prazer intelectual.

Como um podcast?
Sim, vou lançar um. Vou convidar o Carlos Moedas, o Herman José, pessoas que sejam as melhores nas suas áreas. O melhor sapateiro, o melhor engraxador. Mas não vou abrir já o jogo.

Quando é que vai avançar?
Primeiro, quero dar uma volta ao Mundo, qualquer dia posso já não ter saúde. Nunca fui à Austrália, nunca vi a Ópera de Sydney e acho que é uma falha grande. Talvez vá sozinha, num cruzeiro. O dinheiro que tenho fui eu que o ganhei. Embora sinta a inveja, os portugueses são invejosos, mesmo nas redes sociais.

Sente o bullying nas redes sociais?
Por acaso, no meu Instagram não sou muito insultada. Também porque não exponho muito a minha vida privada. Nunca me conheceram um namorado para além do pai dos meus filhos. Alguém sabe se tive?

Teve?
Tive. Mas não digo mais nada (ri), da minha vida privada ninguém sabe.

Disse que se pode envelhecer sem ser velho. Está a lidar bem com a velhice?
Lindamente. O facto de ter vivido muito tempo dá-me uma sabedoria muito grande. E gosto de me rodear de jovens. Hoje contento-me com coisas simples. Vou para a marina de Cascais, olho para o mar, tomo um capuccino. Vivi toda a vida no mar, lembro-me de nadar antes de saber andar, faz parte da minha vida.

(Foto: Leonel de Castro/Global Imagens)

Como é um dia hoje na vida da Lili Caneças?
Deito-me tarde e acordo quando acordar. Tomo o meu pequeno-almoço, um capuccino e duas fatias de pão escuro com manteiga magra. Depois não como mais nada, só janto. Vou para o ginásio ou então caminho pelo menos durante uma hora. E quero trabalhar até morrer, não vou parar. Sei que até aos 95 anos, tenho dinheiro para fazer a minha vida. Se passar dos 95, os meus filhos têm de me sustentar.

A morte não a assusta?
O Woody Allen diz que tem tanto medo de morrer que espera não estar lá quando isso acontecer (ri). Mas eu não tenho medo nenhum, não me apetece nada é morrer, tenho pena de deixar a vida. Sou católica e só peço a Deus para morrer durante o sono.


Apoio à produção:

– Grande Real Villa Itália Hotel & Spa – Cascais
– Joaquim Guerra Cabeleireiros