Jon Stewart a presidente

Notícias Magazine

Podia ser piada, mas não é. Depois de Donald Trump ter saltado de um reality show para a Casa Branca, na América discute-se o potencial de uma candidatura de Oprah Winfrey à presidência. Já há sondagens, vozes mais ou menos credíveis a defender a ideia e até «fontes próximas» da apresentadora a garantir que a própria está a ponderar a ideia. Podia ser piada, mas não é.

Podemos pensar que a política apodreceu, que por lá as estrelas de televisão têm mais credibilidade que os governantes, que estamos perdidos. Também podemos pensar no dia em que, por cá, uma das nossas estrelas se lance numa corrida política. Cristina Ferreira contra Marcelo Rebelo de Sousa? Catarina Furtado contra Medina, por Lisboa? Melhor só mesmo se João Quadros apostasse em conquistar a liderança de uma qualquer bancada parlamentar. Já o imaginou a trocar ideias com o social-democrata Hugo Soares?

Por lá, a tradição é antiga. Ronald Reagan apresentou-se aos americanos de pistola no coldre e acabou a ser eleito presidente em 1981. Mais recentemente, o Exterminador Implacável – também conhecido como Arnold Schwarzenegger – seguiu-lhe os passos e chegou à governação da Califórnia. Só esbarrou nas regras do jogo: nasceu fora de território norte-americano. E alguém duvida que alguém capaz de ser polícia num jardim escola daria um belo presidente?

Natural do Mississippi, o problema não afetará Oprah, mas não é inédito. Ao contrário da experiência política, das ideias defendidas ou das propostas para o futuro, o local de nascimento é critério para a candidatura a cargos políticos. E até em países «de merda», como os descreveu Trump, há regras parecidas.

Em 2010, a candidatura de Wyclef Jean à presidência do Haiti foi vetada. Não porque alguém duvidasse das capacidades do músico co-responsável por The Score, o disco que em 1996 apresentou os Fugees ao mundo. Apenas porque há mais de cinco anos que Wyclef não morava no Haiti. Uma pena ou há alguém que duvide que quem faz um dos discos mais vendidos dos anos 1990 facilmente salva um dos países mais pobres do mundo?

Ignoremos os céticos, esses que andam arrepiados com a transformação da política em concurso de popularidade. Ignoremos ainda os pessimistas, aterrorizados com a inevitabilidade de um dia ser uma estrela de televisão a enfrentar uma daquelas adversidades que marcam a história. Eu prefiro ser construtivo.

E se em vez de Oprah Winfrey, fosse Jon Stewart o candidato anti-Trump? Tem décadas de televisão no currículo, índices de popularidade de fazer inveja a qualquer aborrecido senador e, apesar de tudo, sempre falava mais de política no Daily Show que Oprah no seu programa. Por mim, apoio: Jon Stewart a presidente.

O disco

Fugees
The Score
Columbia Records
8€
5 estrelas

A minha escolha

Olá, então és tu o Severo

Acontece nos momentos de sorte, quando o alinhamento cósmico permite, quando é mesmo o talento que motiva a conversa e não uma outra amizade, editora ou agência de comunicação. Às vezes, mas mesmo só às vezes, o hype em torno de um novo artista é mesmo justificado.

Discretamente, no ano passado, Luís Severo editou um disco homónimo, sucessor de Cara de Anjo (2015), que lentamente foi envolvendo o compositor num hype que tanto podia estar a anunciar a moda da estação, como o surgimento de um novo valor seguro da música nacional. No caso de Severo o passar dos meses só confirmou o que as primeiras audições ao disco faziam suspeitar – não só o disco está entre os melhores do ano passado, como coloca o autor entre os que merecem ser ouvidos por muitos anos.

Tem um som próprio, canções com tudo para resistir ao tempo (Amor e Verdade, Planície (tudo igual), Meu Amor) e a produção de quem não quer perder tempo com artifícios desnecessários. Mais que imperdível, o disco soma um nome aos melhores valores da música nacional. Mais boas notícias? Por estes dias, em entrevista à Lusa, Luís Severo prometeu disco novo para o final do ano. Será seguramente para ouvir com atenção.

Ficha

Luís Severo
Luís Severo
Cuca Monga
11,90€
4 estrelas