André Baptista: “o hacker mais valioso do mundo”

Cristiana Milhão/Global Imagens

Texto de Ana Tulha

Aos 12 anos, André Baptista descobriu, na biblioteca do pai, um livro que lhe traçou o destino. Não é que um livro de programação fosse, em teoria, uma leitura apelativa para um miúdo, mas André chamou-lhe um figo. Apesar de a linguagem ser “um pouco arcaica”, leu-o de uma ponta à outra. Depois experimentava. Há anos que experimenta. E assim se foi programando um craque que, aos 24 anos, já merece o rótulo de “hacker mais valioso do mundo”.

A distinção chegou em março, com a vitória numa competição que decorreu em Washington, nos Estados Unidos. “A ideia era descobrirmos falhas de segurança num cliente real [Mapbox, empresa líder na produção de mapas]. Ao longo de oito horas, eu e cerca de 30 participantes tentámos encontrá-las nos vários serviços”, conta André. E ele nem foi o participante que mais problemas identificou: cinco, contra 12 do concorrente que mais falhas detetou. Mas, entre essas cinco, houve uma que lhe garantiu a vitória. “Detetei uma falha através do qual consegui obter um ‘token’ da administração.” No fundo, uma porta de acesso a todo o sistema. E assim recebeu o cinto de “Most Valuable Hacker” da prova.

Não que o prémio chorudo lhe tenha abalado a rotina. Além de trabalhar como investigador no Centro de Sistemas de Computação Avançada do INESC-TEC, ainda colabora com o Centro de Competências em Cibersegurança e Privacidade (C3P) da UP – onde, entre outras coisas, ajuda a fazer a peritagem de computadores e telemóveis enviados pela PJ. E ainda arranja tempo para integrar a Extreme Security Task Force (xSTF), uma equipa de hackers que se junta duas vezes por semana, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, para treinar e articular estratégias (virtuais) de combate ao cibercrime.

É verdade que, desde que venceu o concurso, tem recebido várias propostas para emigrar, mas, para já, André Baptista só pensa em continuar a mostrar serviço por cá. “Vou dar aulas de mestrado de segurança informática já em setembro. Para já, não quero ir para fora.”

Além, claro, de se manter longe do “lado negro da força”, o dos piratas informáticos. “Sempre tive a certeza de que nunca quereria fazer algo ilegal”, garante. Tanto que a maior maldade que fez foi mesmo aos professores. “Instalava programas nos computadores que faziam com que, a meio da aula, a drive do CD começasse a abrir e a fechar sem parar. Mas era tudo a brincar.” Não custa adivinhar que, por estes dias, já está mais que perdoado.