Como treinar a sua criatividade (e dos seus filhos)

Texto de Sofia Teixeira

A criatividade não é um dom que só calha a alguns e não resulta apenas na criação de grandes obras ou feitos. É uma capacidade ao alcance de todos e pode ter o seu ponto de partida nas nossas experiências quotidianas. Pode estar nas histórias que inventamos para adormecer os nossos filhos ou na capacidade de improvisar quando estamos a fazer bricolage.

O mundo das artes está cheio de exemplos de criatividade. Uma das esculturas mais icónicas de Pablo Picasso, datada de 1942, é a Cabeça de Touro, em que o artista usa um selim e um guiador de bicicleta para daí fazer surgir o focinho e os cornos de um touro. O processo criativo que dá origem a esta peça é exemplificativo de como nasce a maioria das novas ideias: da recombinação de elementos improváveis com o conhecimento já existente.

Mas se olharmos para o mundo doméstico também ele está cheio de exemplos de criatividade ao serviço da resolução de problemas: usar clips de escritório para fazer passar os cabos de computador que se emaranham uns nos outros, por exemplo.

A maioria das novas ideias nasce da recombinação de elementos improváveis com o conhecimento já existente.

Ser criativo implica curiosidade – que leva a procurar informação e a fazer perguntas – e imaginação – que permite criar novas imagens mentais e representações do mundo e resulta em inovação, quando aplicada à prática. Tudo isto exige alguma flexibilidade de pensamento porque as emoções, os interesses, a cultura, o sistema de valores, as crenças e as experiências do dia-a-dia tanto podem ser fonte de criatividade como força de bloqueio, já que criam fronteiras imaginárias que nos limitam o pensamento. Ser original significa conseguir fugir ao pensamento convencional.

Edward De Bono, pai do conceito de pensamento lateral – que consiste em resolver problemas complexos usando métodos disruptivos e pouco ortodoxos – tem uma história que ilustra bem a nossa dificuldade em mudar esquemas de pensamento e em abandonar ideias feitas: se estamos a procurar um tesouro e começamos a cavar um buraco, quanto mais fundo cavamos, mais comprometidos ficamos com aquele local.

Isso leva‑nos a procurar opções para cavar mais depressa e mais fundo – arranjamos ajuda de mais pessoas, recorremos a máquinas. Mas às vezes o que é necessário não é cavar mais fundo no mesmo sítio, é simplesmente ir cavar para outro lugar.

TÉCNICAS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE

PALAVRAS ALEATÓRIAS
Estamos programados para raciocínios previsíveis, porque são feitos em piloto automático com base naquilo que já conhecemos. Uma das formas de ter novas ideias é forçar novas associações, tentando estabelecer uma relação com palavras ou conceitos aleatórios. Há online vários geradores aleatórios de palavras ou pode simplesmente recorrer ao dicionário.

TÉCNICA DO INVERSO
Consiste em inverter as premissas‑base e tentar encontrar uma solução partindo delas. Pode parecer estranho, mas é a técnica que está na origem de muitas inovações, sobretudo a nível de serviço.