Texto Ana Patrícia Cardoso
No auge do seu sucesso, em 2015, com quatro álbuns lançados (Pablo Alborán e En Acústico, em 2011, Tanto, em 2012, e Terral, em 2014), largou tudo e regressou a casa, à família, aos jogos de cartas com as sobrinhas e às tardes inteiras a tocar guitarra. «Durante um concerto, saí do palco em pânico e pedi que me levassem para casa», conta agora o cantor espanhol Pablo Alborán. «Estava esgotado, tudo se tinha tornado mecânico, não tinha mais prazer no que estava a fazer.»
A agenda de concertos foi cancelada e o cantor desapareceu do radar. «Foi a melhor coisa que fiz. Imaginem quatro anos de estrada, sem domingos, sem pausas, sem férias. Tornei-me obcecado pelo trabalho, não conseguia parar.»
«Ainda não tenho 30 anos e já estava esgotado. Neste álbum, pude fazer as coisas com calma, fazer experiências e deitar coisas fora. Voltei a apaixonar-me pelo processo criativo.»
Durante o interregno, foi sozinho para Londres. Queria explorar outro mercado, sair da zona de conforto que é Espanha e, principalmente, passar despercebido. Não parou de escrever, mas fê-lo ao seu ritmo. «Ainda não tenho 30 anos e já estava esgotado. Neste álbum, pude fazer as coisas com calma, fazer experiências e deitar coisas fora. Voltei a apaixonar-me pelo processo criativo.»
Nesta semana volta ao combate, com o lançamento de Prometo, que inclui dois singles que estão desde setembro a tomar conta das rádios – Saturno e No Vaya a Ser. As suas letras sempre foram assumidamente românticas e Pablo confessa que, agora, «o maior desafio é cantar o amor de forma diferente. Quantas músicas já se escreveram sobre o amor, quantos textos, quantos poemas? Quando escreves e sentes que tens um olhar novo sobre o assunto, isso deixa-te feliz. Aconteceu neste álbum, por exemplo, na música Saturno.»
Porquê? «Queria escrever sobre o que nunca chegou a ser quando o amor acaba. Não perdemos só aquilo que tivemos, perdemos também o que poderíamos ter tido. Os versos “Em Saturno vivem os filhos que nunca tivemos; em Plutão ainda se ouvem gritos de amor” são sobre isso mesmo.»
«Estive em Portugal neste verão. Como é bonito esse país. Considero mesmo como a minha segunda casa»
«Ah, Lisboa», tinha-se ouvido do outro lado do telefone, no início da conversa. «Estive em Portugal neste verão. Como é bonito esse país. Considero mesmo como a minha segunda casa», diz Pablo, que na verdade nos chegou ao ouvido quando cantou Perdoname com a fadista Carminho, em 2011. O dueto chegou ao primeiro lugar dos tops nos dois países ibéricos. «Que cantora estupenda. Já conhecia o seu trabalho mas quando a ouvi cantar ao vivo, não podia acreditar na profundidade daquela voz. É uma amiga muito querida», recorda seis anos depois.
Os primeiros minutos da entrevista são dedicados à comida, ao sol, aos bares, aos restaurantes e aos passeios à beira-Tejo. «Os portugueses são muito descontraídos. Uma rapariga disse-me num bar “eu sei que és o Pablo Alborán mas para mim tanto faz”. Achei genial.» A pergunta que se impõe: em Espanha não aconteceria o mesmo? O cantor ri-se. «Acho difícil.»
«Sinto que sou louco e que a música é a minha terapia.»
Desde o primeiro álbum, Pablo Alborán, em 2011, que o rapaz não consegue passar despercebido. Tinha 21 anos e não estava preparado para o impacto que a música teve. «Foi um tsunami. Era um rapaz que vinha de Málaga, escrevia as minhas músicas e, de repente, vejo a minha cara em todo o lado.»
Chegou à sexta platina (mais de 240 mil discos vendidos) em poucos meses e esgotava todos os concertos. Tinha afinal 12 anos quando compôs a primeira canção, Desencuentro, que entrou no primeiro álbum. Já sabia o que queria ser, escrever tornou-se uma necessidade. «Sinto que sou louco e que a música é a minha terapia.»
Ainda estudou publicidade, a pedido dos pais, mas abandonou a ideia passado pouco tempo. A música cantava mais alto. Produto de uma geração digital, Alborán usou o MySpace e o YouTube para divulgar as canções que ia compondo, enquanto continuava a tocar nos bares da sua cidade natal.
«É muito importante que as pessoas não criem uma imagem de ídolo. Sou um homem normal, faço o que toda a gente faz.»
«As pessoas acham que foi um sucesso repentino, mas é uma ideia errada. Foram anos a tocar antes de assinar qualquer contrato.» Ainda hoje as redes sociais são uma ferramenta de trabalho. «É muito importante que as pessoas não criem uma imagem de ídolo. Sou um homem normal, faço o que toda a gente faz.»
Quando se fala de referências musicais, a língua portuguesa vem logo à baila. Pablo cresceu a ouvir fado porque os pais, Elena e Salvador, são fãs de música portuguesa e o primeiro concerto a que o músico assistiu foi de Dulce Pontes. «Fiquei fascinado com a voz, com a melodia. Ainda hoje me emociono quando estou a ouvi-la.» Pablo admite que é de «choro fácil».
Do outro lado do oceano também há paixões antigas. Alcione, Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Tribalistas. «Adoro a sonoridade, a leveza e a inteligência das músicas. Um dos meus sonhos é poder colaborar com algum deles».
E se tivesse de escolher uma música da sua vida? Black Is the Colour of My True Love’s Hair, de Nina Simone. «Está tudo lá, não mudaria uma vírgula, uma entoação. Estrondosa.» A conversa deu a volta e termina outra vez em Lisboa. «Vou voltar em breve, não consigo ficar muito tempo longe. Já sinto falta da comida. Está prometido.»
Cantautor premiado
Com 42 discos de platina, Pablo Alborán já assegurou o seu nome na história da música espanhola. Teve o disco mais vendido em 2011, com Pablo Alborán e, em 2012 e 2013, com Tanto. Ao longo da sua carreira, foi nomeado sete vezes para os prémios Grammy Latinos e venceu seis galardões Los 40 Principales. Em 2013, foi nomeado como melhor artista espanhol nos MTV Europe Music Awards. Com apenas 28 anos e o novo álbum a chegar, Pablo Alborán ainda tem um longo caminho pela frente.