O meu objeto: o disco dos New Order de Pedro Strecht

Pedro Strecht acaba de lançar o livro “Pais suficientemente bons”.

O objeto escolhido pelo médico pedopsiquiatra Pedro Strecht.

“Não é fácil escolher um objeto que seja o mais representativo da nossa vida. O que é a vida, se cabem tantas vidas numa só? Que são as relações que estabelecemos com os objetos, na sua multiplicidade e diferença?
Escolhi o primeiro de que me lembrei. Surgiu um disco. Uma capa, um título, o ano da sua edição, o grupo que o compôs. New Order, 1983, ‘Power corruption and lies’, uma reprodução de um quadro de Fantin-Latour. Porque, desde cedo, a música preencheu a minha vida, incluindo a que emerge do silêncio. Olho para este objeto e sei: tinha 17 anos, ia entrar para Medicina. Os New Order eram descendentes dos Joy Division, eu era apenas mais um adolescente à procura de referências e identificações. Gostava deles.
A música era completamente diferente; nessa idade, queremos ser originais, que bom! A capa, um objeto estético: lembra os lugares de beleza que temos de procurar e cuidar. O título, de uma atualidade brutal, que nos leva a duvidar: terá de ser (mesmo) assim? E depois, só eu sei…que a última música tem um título que ainda hoje repito:
– ‘Leave me alone’.”

Médico pedopsiquiatra
58 anos