«Pais: leiam menos, sintam mais», Eduardo Sá

Texto de Cláudia Pinto | Fotografias de Reinaldo Rodrigues

Com a presença de cerca de 250 pessoas, a sessão de abertura foi da responsabilidade de Catarina Carvalho, diretora da Notícias Magazine, seguindo-se a apresentação do psicólogo clínico Eduardo Sá sobre o tema «Os pequenos passos».

Numa palestra muito bem acolhida pela audiência, Eduardo Sá começou por perguntar: «Será que a família fica bem ou mal na fotografia? Acho convictamente que somos as melhores famílias que a humanidade já conheceu, os nossos filhos têm imensa sorte e os filhos deles vão ter ainda mais sorte. Nós hoje planeamos a gravidez, informamo-nos acerca dos bebés, escolhemos os infantários e vamos mais vezes às escolas do que os nossos pais foram em todo o nosso percurso. Os nossos filhos têm uma atenção que talvez nós nunca tenhamos tido».

Eduardo Sá lançou pistas para uma melhor paternidade afirmando que os pais têm muita dificuldade em dizer não com alma e até «com fúria», porque confundem autoridade com autoritarismo.

Mas há também o outro lado, ressalva o especialista. «Quando é que as famílias ficam mal na fotografia? Na forma como usamos os filhos para nos reconciliarmos com o amor, que nem sempre tivemos como filhos, e que nem sempre temos como pais. O amor dos nossos filhos não chega para nos sentirmos amados.»

O psicólogo lançou pistas para uma melhor paternidade afirmando que os pais têm muita dificuldade em dizer não com alma e até «com fúria», porque confundem autoridade com autoritarismo. «Falta reabilitar o sexto sentido das mães, que é muito mais sensato do que todos os blogues que possam ler. Reabilitar o “porque sim”, reabilitar o amor que é de uma coisa que falamos pouco e que parece que é algo jurássico», adiantou o psicólogo no final.

Perante algumas questões da audiência, Eduardo Sá finalizou afirmando que a sua função não é trazer respostas mas deixar muito mais dúvidas e perguntas. «Tenho a convicção de que se pegarem nelas, vão ter muito mais sucesso.»

«Brincar é um património da humanidade, todas as crianças saudáveis precisam de brincar todos os dias durante duas horas. Costumo dizer que deveria haver um letreiro muito grande no jardins de infância a dizer: “é proibido ensinar a ler e a escrever”.»

O psicólogo alertou ainda para o excesso de tempo que as crianças passam na escola, mais de 55 horas em alguns casos, e para o facto de as crianças não brincarem o suficiente.

«Brincar é um património da humanidade, todas as crianças saudáveis precisam de brincar todos os dias durante duas horas. Os jardins de infância entram por uma deriva estranha. Costumo dizer que deveria haver um letreiro muito grande a dizer: “é proibido ensinar a ler e a escrever”.»

Em seguida, foi exibido um depoimento em vídeo sobre «50 anos de pediatria: o que mudou?» da responsabilidade do pediatra que revolucionou a especialidade em Portugal, João Gomes Pedro. Com 50 anos de profissão, irá deixar de dar consultas no ano de 2018.

Antes do intervalo, Constança Cordeiro Ferreira, terapeuta de bebés e conselheira de Aleitamento Materno da OMS/UNICEF, respondeu a algumas questões enviadas por algumas bloggers portuguesas mas também por parte da audiência, lembrando que «é preciso haver disponibilidade emocional dos pais para lidarem com o bebé. Há que falar com os bebés, mesmo que se considere que eles não entendem. Falar, olhar nos olhos, cantar. Tudo isto é material cognitivo essencial».

«O bebé é o mamífero mais imaturo de todos e carece de um tempo de amadurecimento fora do útero. Isso tem de acontecer na pele, no nosso corpo», disse Constança Ferreira, terapeuta de bebés.

Com moderação de Catarina Pires, editora da Notícias Magazine, a terapeuta falou ainda da desinformação que existe à volta da amamentação e das crenças que subsistem na sociedade. Da mesma forma, em relação à ideia de que «o colo torna os bebés manhosos», a terapeuta considera que «a regra biológica é andar com o bebé colado a nós dois, três meses. O bebé é o mamífero mais imaturo de todos e carece de um tempo de amadurecimento fora do útero. Isso tem de acontecer na pele, no nosso corpo».

Uma ideia que não é vendida pelo imaginário que se cria pelos bebés e não é o que se lê na maior parte dos livros. «As nossas mães tiveram muito tempo de licença de maternidade, os bebés iam para a creche com um mês, e como é que se convence uma fêmea a largar assim a cria? Fazendo-lhe crer que ela ser tão apegada vai prejudicar os filhos», disse Constança Cordeiro Ferreira.

Até às 13h00, haverá ainda lugar para a apresentação «Escrever sobre família, entre a realidade e a ficção» pelo editor executivo da Notícias Magazine, Paulo Farinha, seguindo-se a presença de Marcos Piangers, jornalista, apresentador e colunista brasileiro, sobejamente conhecido pelas suas reflexões sobre o papel do pai nas famílias.