Mãe de Afonso Henriques, filha de Afonso VI, mulher de Henrique de Borgonha, amante de Fernão Peres de Trava e, no entanto, rainha Teresa, mulher que não abdicou do poder e que se recusou a prestar vassalagem a quem quer que fosse. É inevitável imaginar que o filho tinha a quem sair. Isabel Stilwell imaginou isso. E, após muita pesquisa histórica, imaginou-lhe uma vida, que se lê como ela a terá vivido. De um fôlego.
«Afonso embalou-a, hipnotizado, preso do seu olhar, Teresa atraía-o com os seus olhos verdes, iguais aos meus, os olhos verdes das Moniz do Bierzo. Não era o varão que me podia salvar, mas tinha a força e a determinação de quem vinha para reinar, e saldou ali, naquela primeira hora, um pacto com o pai, que acredito ninguém será capaz de quebrar. Quando Afonso ma pousou nos braços, fez-lhe o sinal da cruz na testa e baixinho murmurou: – Teresa, filha minha.»
É assim, pela voz de Ximena Moniz, mãe de D. Teresa e amada de D. Afonso VI, rei de Castela e Leão, afastada da corte e da cama deste por influência da todo-poderosa D. Urraca Fernandez, irmã do imperador, que nos é apresentada Teresa. Criada com a irmã Elvira, mais velha um ano, no Castelo de Urvel, no Bierzo, para onde a mãe forte e altiva se retirou após dar à luz a segunda rapariga, partirá aos 6 anos, com a irmã, para a corte do pai, onde as princesas serão educadas, com a meia-irmã Urraca, filha de Constança de Borgonha, segunda mulher (legítima) do rei, pela tia Urraca Fernandez, coração duro e implacável, apenas conquistado pelo atrevimento da sobrinha rebelde. Trunfos nas alianças políticas que conviessem ao soberano.
Ao longo de quinhentas páginas, a escritora Isabel Stilwell narra o que poderá ter sido a vida de D. Teresa, que, sendo a segunda filha, para mais ilegítima, de Afonso VI, tinha tudo para que o seu nome não passasse de mais um na árvore genealógica dos reis de Portugal e Espanha. Mas inscreveu-o, e de que maneira, na história dos dois países. A personalidade indomável que lhe adivinhou foi o que levou Isabel a querer.
A personalidade indomável que lhe adivinhou foi o que levou Isabel a querer descobrir tudo o que pudesse sobre D. Teresa. «Estava a ler um livro sobre aquela época e achei irresistível aquela guerra entre duas irmãs – Teresa e Urraca. Comecei logo a fazer o filme na minha cabeça: duas irmãs criadas juntas, que toda a vida se digladiam e que ironicamente têm percursos tão semelhantes», diz a jornalista, 55 anos, que, depois do DN, onde começou aos 21, fundou e dirigiu revistas como a Pais & Filhos e a Adolescentes, foi diretora da Notícias Magazine e do jornal Destak, escreveu livros para miúdos e menos miúdos, e, em 2007, decidiu reatar uma paixão antiga, a História, dedicando-se à escrita de romances históricos, sem abandonar o amor da sua vida, o jornalismo, que continua a praticar nas crónicas do jornal i e da Pais & Filhos, nas reportagens para a Máxima e nos Dias do Avesso, da Antena 1, com Eduardo Sá.
«Nas crónicas de Sahagún, é descrita a fúria de D. Urraca quando ouve os seus homens tratarem a irmã por rainha Teresa, assim como é contado o episódio em que esta convence o cunhado, D. Afonso I, de Aragão, de que Urraca está planear a sua morte, por envenenamento. São excelentes ingredientes.» Autora de best-sellers como Filipa de Lencastre, Catarina de Bragança, D. Amélia, D. Maria II e Ínclita Geração, Isabel Stilwell conhece bem a receita para um bom romance histórico, mas desta vez foi mais difícil de «cozinhar». Teve de recuar muito no tempo. A uma época sobre a qual, percebeu, há muito mais dúvidas do que certezas e as fontes e a documentação escasseiam. Nada que a sua imaginação e uma inclinação natural para a psicologia não resolvam, mas deixando sempre, se for caso disso, que a realidade lhe estrague uma boa história. «Sou muito jornalista do passado. Se descobrir um facto que contradiga o que tinha imaginado, deito fora o que tinha escrito. Acima de tudo, está o pacto que estabeleço com o leitor.»
Para o cumprir lê, lê, lê, lê. E vai lá, aos lugares onde tudo se passou. Porque a paisagem, o clima, as pedras, os edifícios, também contam histórias, moldam carateres e influenciam percursos. «No fundo, o que um escritor de romances históricos faz é estudar a matéria e percebê-la tão bem que consegue recriá-la para a contar, de forma acessível, às pessoas. Neste caso, a matéria foi mais difícil e sim, este é o meu livro mais ficcionado, mas explico isso no fim, na nota da autora. Esta é a minha D. Teresa, mas, de acordo com a minha pesquisa, é uma D. Teresa muito plausível.»
Uma D. Teresa inteligente, corajosa, sedutora e ambiciosa, que prefere a política e o campo de batalha à corte, mas que casou apaixonada com Henrique de Borgonha, e com ele fez planos e delineou estratégias para conquistar o poder e os territórios que considerava seus por direito. Uma D. Teresa que não prestou vassalagem à irmã Urraca, com quem competiu toda a vida, nem ao sobrinho Afonso VII, e que assinava as doações como rainha Teresa, filha do imperador Afonso VI. Uma D. Teresa que enfrentou tudo e todos para viver o seu amor com Fernão Peres de Trava, com quem teve duas filhas, apesar de este ser casado. Uma D. Teresa, que apesar dos desacordos, que culminaram na batalha de São Mamede, amou o seu único filho varão que chegou à idade adulta, Afonso Henriques. E foi amada por ele.