Já ninguém quer ser princesa

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É isto o que diz a sondagem publicada nesta semana pela revista Newsweek. Apenas um por cento dos britânicos gostavam de ser a Kate Middleton. A percentagem sobe nas raparigas entre os 25 e os 39 anos… para dois por cento. Um pouco mais – 11 por cento – gostavam de experimentar um dia na vida da duquesa de Cambrige, percentagem que aumenta até aos 21por cento nas mulheres entre os 25 e os 39 anos. Mas a maioria – 32 por cento – ficava-se bem por desenvolver apenas uma amizade com ela. Uma sondagem tem sempre muitas explicações – e alçapões. A esta, por exemplo, muitos responderam «Não sabe/não responde». Na semana em que a Casa Real anunciou uma nova gravidez de Kate, mais pessoas estavam preocupadas com o surto de ébola (9%) do que com o bebé real (7%). Já para não falar do ISIS (25%) e, obviamente, do referendo na Escócia (40%).

A conclusão mais óbvia: os britânicos estão-se cada vez mais nas tintas para a família real. Têm mais em que pensar. Ou não querem simplesmente saber. Os dramas do casal Carlos e Diana, o striptease emocional de uma princesa traída e mal-amada e de um príncipe frio e traidor, todo esse esforço psicológico há de ter contribuído para alguma coisa. Nomeadamente, para a maturidade que esta sondagem demonstra. Os súbditos relegaram a família real para o lugar político e social que lhe compete. Mas se, por um lado, e desse ponto de vista, a relação dos súbditos com a coroa é assim muito mais calma e saudável, não deve deixar de ser preocupante que Kate não seja vista como um exemplo. Se «a firma», como também se chama à família real britânica, fosse mesmo uma empresa, estaria já a contratar especialistas de marketing para tratar do assunto.

Qual será o lugar de Kate neste firmamento? Para já, a personagem real mais querida dos britânicos é o irmão mais novo de William, Harry. Diana, mesmo na sua montanha-russa de emoções, foi também farol de causas, precursora de novos hábitos e mesmo cabide de tendências de moda, que ajudou a mudar. Teve o seu papel. A princesa do povo, chamaram-lhe, poderá ter adiado por uns anos o divórcio do povo com a realeza.

Kate, por enquanto, tem-se limitado ao papel de pãozinho sem sal – no máximo a sua marca mais forte é o risco kohl nos olhos de que abusa apesar de as tendências dizerem o contrário. Não chega para ser um símbolo, sequer um exemplo a seguir. O que ela tem dado, até agora, é mais o de ser o útero do regime. É isso que os britânicos veem nela: 62 por cento acreditam que o seu lugar no mundo é ser mãe de príncipes e esposa de outro (35%). Pouco para uma mulher que tem um master em Artes e entrou na faculdade com uma das melhores médias da sua geração.

O que é mais interessante nesta sondagem é que os britânicos parecem estar preparados para a mudança. Eles gostavam de vê-la falar mais, que ela defendesse alguma causa, e, até, que tivesse um emprego. Por isso, está tudo nas mãos da duquesa de Cambrige? Quererá ela ser a branda e calada princesa ou a muito inteligente mulher do século xxi? Porque o que está sempre em causa nestas questões de princesas consortes é, também, o papel das mulheres na sociedade. E sobre isso Kate não pode ter dúvidas. E se muitos dos britânicos – 43 por cento – consideram que ela é um passo em frente para as mulheres, representando a mulher moderna, a verdade é que isso acontece, sobretudo, através de algo que qualquer feminista consideraria uma ironia: Kate obrigou um príncipe a casar por amor, e com uma plebeia, mudando as regras dinásticas.

NOTA: para ver o estudo consultem www.yougov.co.uk .

 

Publicado originalmente a 5 de outubro de 2014.