Anos e anos de lutas para acabar com os clichés de género, discussões acaloradas sobre os comportamentos padrão de homens e mulheres numa relação… Tudo isto é verdade, mas tudo isto esbarra numa das maiores paredes que separa o universo masculino do universo feminino: quando se trata de fantasias, os homens são muito mais básicos e as mulheres são muito mais originais. Ponto. E não há cá conquistas sociais e direitos civis na paridade entre homens e mulheres nesta discussão. Isso não é para aqui chamado.
Os homens fantasiam com duas mulheres na cama. E mais meia dúzia de coisas, quase sempre envolvendo fardas e gémeas. As mulheres fantasiam com isso. E tudo o resto. A diferença – a grande diferença – é que as mulheres, na maior parte dos casos, guardam isto para elas. Ou partilham com amigas em jantares sem homens. Já eles (nós, pois), fazem(os) exatamente o contrário: gostamos de badalar aquilo com que fantasiamos. Resultado? Elas costumam ter muito mais coisas para contar.
Quando falamos das fantasias masculinas, entramos formalmente, em boa parte dos casos, no terreno da bazófia descarada. E do senso comum – o que, no caso dos desejos deles, podem ser dois territórios muito próximos. Qualquer homem tem noção de que dificilmente conseguirá convencer duas amigas a alinhar numa ramboia (e o sexo pago nada tem que ver com isto). Isso é senso comum. Mas nem por isso deixa de pensar que, quem sabe, ainda vai faturar. É preciso é acreditar que o dia chegará e que ele estará à altura do acontecimento (se por vezes já é difícil passar dos dez minutos com uma, como fazer com duas?). Isso é bazófia. Qualquer homem sabe quão remotas são as probabilidades de a mulher concordar com um filme desses (mesmo que ela defina as regras todas, como a escolha da outra pessoa, a lista de coisas que se pode fazer ou a proibição de contactar o terceiro elemento depois daquele dia). Isso é senso comum. Mas gostaria muito de poder dizer aos amigos que a mulher é suficientemente à frente para o fazer. Isso é bazófia – misturada com orgulho incontido.
Quando falamos das fantasias femininas, porém, a coisa é mais complexa. Complexa para eles. Para elas é apenas natural. Para já, porque muitos homens continuam a achar que a fantasia de noite de sexo ideal para elas inclui vinho, música ambiente e um restaurante com vista. Seguido de uma passagem por um hotel, com velas no quarto (raio de ideia, ainda alguém se queima). Mas o principal não é isso. O principal – e de difícil digestão para eles, razão pela qual elas preferem guardar o assunto – é que boa parte das fantasias femininas até é fácil de concretizar. Assim haja coragem. E oportunidade.
Dar uma rapidinha numa casa de banho de um restaurante, durante um casamento, com um dos convidados amigos do noivo. Trocar olhares com um fulano na rua e enfiarem-se num sítio escuro qualquer. Ir para a cama com um ex-namorado. Ou, melhor ainda, com um que não chegou a ser namorado, mas ficou entalado. Dar uma trinca na colega (sim, mulher) do piso de baixo ou do departamento ao lado. Recriar todas as posições de um excerto de um filme pornográfico. Pedir ao fulano de mãos grandes e aspeto brutamontes para usar as manápulas em alguma coisa útil… Vendar os olhos do princípio ao fim. Tudo isto é mais fácil do que as duas hospedeiras, não é?
As fantasias sexuais são, por definição, episódios de intimidade que guardamos para nós. A diferença – uma delas – entre homens e mulheres é que eles gostam de as badalar. Elas preferiam concretizá-las.
[Publicado originalmente na edição de 27 de abril de 2014]