Perto da Vista, alegre no coração

A primeira fábrica dedicada à produção da porcelana em Portugal faz 200 anos. Fomos conhecer os “pratos” à casa.

Vai e não volta. O tempo tem o seu compasso. Faz o seu caminho, arrasta-nos com ele, encavalitando umas histórias nas outras. Aqui, essas memórias estão guardadas por álamos e começam numa estrada de paralelos que liga muitas casas, muitas vidas. Tudo ao redor de uma capela. E logo ali se vê que não há acasos nos dias. E se os houvesse, ao menos aqui, o mais certo era terem sido pintados à mão.

Iniciou tudo com um homem, e bispo, D. Manuel de Moura Manuel, que ali mandou fazer uma capela e também uma fonte. Mas, primeiro a fonte. Fonte do Carrapichel. Daquelas que jorram água e sabedoria. Na pedra frontal, 84 versos esculpidos, cuja terminação marcou o lugar: “Bebe pois, bebe à vontade. Acharás que é (muitas vezes) Tão útil para a saúde Quão para a Vista Alegre”. Nome que ficou, talvez por ser verdade. E se não o era naqueles dias, é provável que o seja nos de hoje.

Segue-se a capela de Nossa Senhora da Penha de França, Monumento Nacional, cuja joia artística é o mausoléu de D. Manuel de Moura Manuel. Na capela de vestes barrocas, do final do século XVII, há muitas outras relíquias, os azulejos de Gabriel del Barco, a pintura da Árvore de Jessé e uma inusitada janela com varanda virada para o túmulo. Mas é provável que nada disto hoje existisse se não fosse José Ferreira Pinto Basto.

Trabalhador, viajado e rico, foi figura de destaque na sociedade portuguesa do século XIX, exemplo da livre iniciativa no país. Apaixonado pela porcelana chinesa, tinha o grande sonho de ter marca própria. Começou por adquirir, em 1812, a Quinta da Ermida, perto da vila de Ílhavo. Em 1816 comprou, em hasta pública, a capela e os terrenos envolventes.

Assim, a 1 de julho de 1824, fazem agora 200 anos, o alvará régio de D. João VI autorizou o estabelecimento da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. No mesmo ano, começa a construção do bairro operário, o primeiro do género em Portugal, funcionando como fator de atração e fixação de mão de obra, e que ainda hoje alberga ex e atuais trabalhadores. O fundador que ali vivia no Palácio Senhorial, com a sua mulher e 13 filhos, patrocinou ainda um teatro, um clube de futebol, uma banda filarmónica, uma corporação privada de bombeiros (pioneira no país), uma creche, uma escola de artes, um posto de saúde e um museu que o rei D. João abençoou.

A descoberta do ingrediente misterioso

A todos falta algo e a José Ferreira Pinto Basto faltava o caulino, minério que tornou as peças da Vista Alegre brancas e finas. Quando os jazigos de caulino foram encontrados próximos de Ílhavo, em 1832, a fábrica ganhou outro estatuto. Começou a era da porcelana perfeita.

Logo desde o início, houve consciência da importância da contratação de mestres estrangeiros experientes, como Victor Rousseau e Gustave Fortier. Tanto na cerâmica como na pintura. O que contribuiu para que a marca crescesse a nível nacional e internacional.

Entre os muitos compradores estão personalidades históricas e casas reais de todo o Mundo. Dos clientes fazem parte o ex-presidente americano Ronald Reagan, Grace Kelly e a rainha de Inglaterra.

Grandes projetos e várias colaborações com designers, artistas plásticos, arquitetos, fotógrafos, entre outros criativos, conferem uma linguagem eclética e universal à marca.

Realce-se também os prémios. Todos os anos, o design da marca portuguesa chama a atenção dos mais prestigiados prémios de design internacionais. Destacam-se os German Design Awards, LIT (Light in Theory), Good Design Chicago, Innovative Interiors, European product Design Awards.

Em 2009, o Grupo Vista Alegre Atlantis passou a integrar o portefólio de marcas do Grupo Visabeira e desde então tem havido grande investimento. Especialmente este ano. Até porque a primeira unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal, a mais antiga da Península Ibérica, e os seus 700 trabalhadores, estão de parabéns.


43 Logótipos

Atualizar a “marca”, mas sem perder a identidade
Ao longo da história da empresa, a identidade gráfica foi sofrendo transformações. Por exemplo, sempre que mudava a administração ou havia uma data comemorativa importante. Desta forma, também se ia atualizando de acordo com os padrões estéticos e a sensibilidade cultural dos diversos períodos que atravessou.

1888

Ano em que os Pinto Basto trouxeram o futebol para Portugal
Os irmãos Pinto Basto, que estudavam em Londres, trouxeram para Portugal nas suas férias uma bola de couro que atraiu atenções. A 22 de janeiro do ano seguinte, os mesmos irmãos organizavam no Campo Pequeno, em Lisboa, o primeiro jogo no país. Portugueses vs ingleses. A vitória sorriu-nos por 2-1.