Pedro Moreira: espírito de ferroviário

Pedro Moreira é presidente da CP

Quis seguir as pisadas do pai como maquinista, acabou presidente da CP. Os comboios foram e são a sua vida.

Nasceu em pleno PREC em Mesão Frio e cedo foi com os pais para terra mais próspera de trabalho e oportunidades. A família fixou-se em Ermesinde, às portas do Porto, mas Pedro Moreira voltava todos os verões à vila transmontana natal, aos amigos de sempre, aos cheiros e tradições locais. Ainda lá vai com regularidade para rever quem lhe foi próximo na juventude e reviver episódios do passado.

O pai, maquinista, foi e é a sua grande inspiração. Com ele passou dias a fio dentro das oficinas da CP em Guifões (Matosinhos) e em Contumil (Porto), percorrendo carruagens enquanto sonhava comandar aquelas máquinas gigantes que uniam um Portugal que delas se ia despedindo gradualmente à medida que sucessivos governos deixavam de apostar na ferrovia, sobretudo a partir da década de 1990. Pedro Moreira passou a adolescência e o início da vida adulta a conviver com notícias constantes que davam conta da morte lenta do seu grande amor. Não desistiu do sonho e com os mais próximos comentava que a estratégia de eliminar linhas ferroviárias era um erro que Portugal pagaria caro. Não espantou, por isso, que ao assumir a direção da CP, a 27 de setembro de 2022, logo tentasse reverter a história. “Portugal pode voltar a sonhar com a rede ferroviária que já teve. E para melhor”, garantiu em entrevista à revista “Visão”, pouco depois de assumir o cargo. Não conseguiu (ainda) que o mapa das linhas voltasse aos números do passado, mas alcançou o feito de colocar a CP a alcançar um lucro histórico de 9,2 milhões de euros.

Licenciado em Engenharia Eletrotécnica no ramo de Automação e Sistemas pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto, completou a formação superior com um programa de Direção de Empresas na AESE Business School. E esteve sempre ligado aos comboios. O seu primeiro emprego foi o de operário no meio que sempre ambicionou, como técnico de manutenção e automotoras na antiga Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF), em 1995, ainda enquanto estudava. Sete anos mais tarde, sempre na EMEF, subiu a engenheiro de produção, depois a gestor e a diretor da Unidade de Manutenção de Alta Velocidade, ficando como responsável máximo pela gestão operacional dos comboios Alfa Pendular.

A gradual ascensão na hierarquia não lhe alterou a personalidade. Dispensa formalismos e prefere tratar todos por igual. “Foi sempre uma pessoa acessível. Quando tinha altas funções na EMEF era frequente vê-lo nas oficinas entre os trabalhadores. Falava com quem o abordasse e não se importava que os mais antigos o tratassem por tu”, conta Sérgio Fernandes, coordenador regional do Porto do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Ferroviários (SNTF) e antigo colega de Pedro Moreira.

Próximo do PS mas sem militância, foi nomeado presidente da CP por Pedro Nuno Santos, então ministro das Infraestruturas e agora secretário-geral dos socialistas, depois de um período de dois anos em que assumira a direção interina da empresa pública após a demissão de Nuno Freitas. Era vice-presidente há um ano, depois de dois como vogal do Conselho de Administração (CA) da CP e de um como também vogal do CA da EMEF. Pelo meio, em 2019, assumiu a gestão da Nomad Tech, uma joint venture entre a EMEF e a empresa Nomad Tech criada para aumentar os níveis de qualidade da rede de wi-fi nos comboios.

Discreto, Pedro Moreira manteve tal postura quando chegou ao topo da carreira. “O poder não lhe subiu à cabeça, continua a sentir-se uma pessoa da casa. Até almoça regularmente na cantina connosco”, acrescenta Sérgio Fernandes. Nas negociações com os funcionários da CP relativas a questões salariais e à melhoria das condições de trabalho “tem a vantagem de conhecer por dentro os problemas”, como reconhece Abílio Carvalho, líder do SNTF, sindicato do qual Pedro Moreira apenas se desvinculou quando tomou posse como presidente da CP. “Está sempre atento às reivindicações e mantém uma postura de diálogo permanente, embora se sinta barrado pelas limitações impostas pela tutela”, considera Abílio Carvalho. Ainda assim, “mantém o espírito de ferroviário”.

Pedro Miguel Sousa Pereira Guedes Moreira
Cargo:
presidente da CP
Nascimento: 20/06/1975 (48 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Mesão Frio)