Margarida Rebelo Pinto

A Portugal o que é de Portugal


Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

Antes de se sentar à mesa para falar com as forças policiais e com os professores, e antes de apresentar um plano de emergência para a saúde, o novo primeiro-ministro fez questão de recuperar o símbolo clássico em documentos oficiais onde constam o escudo com as quinas e a esfera armilar. Talvez para muitos portugueses esta decisão tenha pouco significado face às grandes questões nacionais, mas aproveito para citar Oscar Wilde: não existem coisas grandes nem pequenas, todas são importantes. A ideia peregrina de esvaziar a imagética da marca nacional dos símbolos que nos definem foi, na minha opinião, mais um delírio disparatado do anterior Governo, o mesmo que prometeu em 2019 que as antigas instalações do Ministério da Educação seriam transformadas em residências para estudantes, o que nunca aconteceu. Não vou desfiar o rosário interminável do legado desastroso do Costismo, uso apenas este exemplo entre mil, porque o passado deve servir para tirar lições para o futuro. Tivemos um Executivo perito em marketing que atirou o país para o caos, mais preocupado com a imposição de casas de banho mistas nas escolas do que na dignificação das carreiras dos professores e mais focado em encher os cofres do Estado do que em melhorar as condições de vida dos portugueses, cego pela crença de um mandato de quatro anos que lhe iria permitir, um ano antes das eleições legislativas, voltar a distribuir pão e circo. Agora é tempo de recuperar o tempo perdido numa corrida contra o tempo na qual todos os dias contam.

A devoção e o respeito pelos símbolos nacionais é proporcional ao nosso amor-próprio enquanto nação. A esfera armilar manuelina representa o mundo descoberto pelos portugueses, as cinco quinas simbolizam os cinco reis mouros que Dom Afonso Henriques venceu. Dentro de cada quina, estão cinco besantes que também simbolizam as chagas de Cristo. Reza a lenda que um anjo, sob a forma do apóstolo Santiago, visitou o nosso primeiro Rei antes da Batalha de Ourique em 1139, prometendo-lhe vitória se no futuro usasse as quinas, que representam as cinco chagas de Cristo, dispostas com o desenho da cruz cristã.

Somos um povo orgulhoso, heróis do mar, nação valente e imortal, rico em tradições e em símbolos que nos representam no mundo. Haja bom senso em repor o que é próprio da nossa identidade. Não é uma questão nacionalista, é um imperativo nacional.