Quando a Mona Lisa agitou o Mundo

A rubrica "Máquina do Tempo" desta semana recorda o desaparecimento que tornou ainda mais famosa a obra de Leonardo Da Vinci.

O icónico quadro “Mona Lisa”, pintado por Leonardo Da Vinci, sempre foi cobiçado. No entanto, a sua notoriedade explodiu de maneira inesperada em 1911.

Na sossegada manhã de 21 de agosto, cerca de 400 anos após ter sido pintada, a “Mona Lisa” – também conhecida como La Gioconda e por La Joconde – desapareceu do Louvre, em Paris. Nesse dia, o museu que tinha passado recentemente por uma reforma, estava fechado ao público. Mas a entrada e saída de funcionários era constante.

O roubo que abalou o mundo da arte só foi descoberto 28 horas depois. Quem reparou foi o artista Louis Beroud, que ao entrar no salão Carré, onde a pintura repousava, ansioso para reproduzir as paredes e as demais obras ali expostas, percebeu um vazio na parede. Perguntou aos guardas, que foram conferir o estúdio do restauro, de fotografia. O museu inteiro. A “Mona Lisa” tinha desaparecido.

A notícia espalhou-se rapidamente pelos corredores cheios de visitantes. A comoção generalizada. O roubo, (pensava-se) ocorrido em pleno horário de funcionamento, transformou-se em manchetes de jornais, assumiu o papel principal em livros e peças de teatro.

O salão do museu tornou-se um ponto de peregrinação para a população, que se aglomerava para contemplar apenas os parafusos vazios na parede, onde a obra-prima outrora reinava. O incidente foi proclamado como o crime artístico do século, uma trama intrigante que cativou a imaginação pública e lançou “Mona Lisa” para o centro de uma trágica narrativa.

A caçada foi frenética. Não faltavam suspeitos. O poeta francês Guillaume Apollinaire foi preso. O pintor espanhol Pablo Picasso interrogado. Mas a verdade apenas a sabia Vincenzo Peruggia, um humilde vidraceiro italiano, que desafiou a segurança do museu, simplesmente desparafusando o quadro da parede, escondendo-o depois sob o seu uniforme antes de fugir com a obra sem ninguém ver. A motivação de Peruggia, que se autodenominava um patriota, surpreendeu. Apenas quis devolver a Itália um tesouro cultural usurpado por Napoleão Bonaparte.

O drama atingiu o ápice a 10 de dezembro de 1913, quase dois anos após o roubo, quando o ladrão foi capturado ao tentar entregar “Mona Lisa” a Alfredo Geri, um vendedor de antiguidades de Florença. A data ficou marcada como a redenção da obra-prima, resgatada de uma vida clandestina. Peruggia foi sentenciado, mas a pena reduzida.

Já “Mona Lisa”, após as suas aventuras, regressou ao Louvre, protegido por medidas rigorosas, escapando depois disso a alguns ataques (nem sempre incólume). Seja como for, continua a fascinar o Mundo. Seguindo-nos com o olhar e com o seu ar enigmático.