Susana Romana

Os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa, o vício da raspadinha e o recorde do Japão

Rubrica "Partida, largada, fugida", de Susana Romana.

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Começou ontem o outono, pelo que permitam-me deixar um conselho: optem por roupa quentinha, de preferência golas altas. Caso contrário, pode-vos aparecer um Marcelo Rebelo de Sousa a criticar a epiderme que têm à mostra – mas só, claro, por se ralar com a saúde pública.

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Na sua visita ao Canadá, o presidente da República mandou bocas sobre o peso de uma senhora, além de ter comentado o decote de outra. Aparentemente, quem escreve as suas interações com o público é um daqueles sites de anedotas. A seguir, fará comentários sobre senhoras loiras e sobre alentejanos.

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Marcelo negou que os seus comentários fossem sexistas, enfadado com o burburinho que tudo isto causou. Este país também só dá atenção a coisas que não interessam nada, dos direitos das mulheres aos 400 casos de abuso na Igreja que nem são particularmente elevados.

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Ainda na mesma visita, o presidente resumiu-nos assim: “Somos fado, somos bacalhau, somos caldo verde, somos cozido à portuguesa, somos o vira e o corridinho e o fandango”. Esqueceu-se de: “Somos pessoas que trabalham e mesmo assim moram em tendas por causa das rendas, somos cauda da Europa, somos Salgado a dizer que está xexé para fugir à prisão”.

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O vício da raspadinha afeta 100 mil portugueses, um terço dos quais de forma patológica, diz um estudo do Conselho Económico e Social. São urgentes programas de desintoxicação, em que a metadona é terem de raspar etiquetas autocolantes daquelas chatas de sair.

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O mesmo estudo mostra que a maioria dos jogadores de raspadinha tem rendimentos abaixo de mil euros. É normal. Para aqueles que ganham bem, as raspadinhas chamam-se criptomoeda.

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Na verdade, se tem dinheiro para gastar e adora jogos de azar onde pode perder tudo, tem sempre outra hipótese: o Governo vai em breve vender a TAP. Boa sorte!

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O Japão voltou a bater recorde de centenários, com 10% da população a ter mais de 80 anos. Conseguem-no devido a condições de vida saudáveis. Em Portugal, o nosso plano é outro: correr com os jovens todos do país, até só sobrarem pessoas com mais de 70 anos.

[Artigo publicado originalmente na edição do dia 24 de setembro – número 1635 – da “Notícias Magazine”]