iolanda: de derrota em derrota até à vitória final

iolanda é a vencedora do Festival da Canção 2024

Quis cedo ser cantora. Colecionou desilusões, chorou, baixou os braços. Quase desistiu. Adora dourada grelhada e lojas de roupa em segunda mão. Vai representar Portugal no Festival da Eurovisão.

Quando a votação do público confirmou a vitória de “Grito”, a vencedora da 58.ª edição do Festival da Canção sentiu algo inédito. “Um misto de alegria com sentido de responsabilidade”, como definiu à NM. Foi o triunfo maior de uma carreira que demorou a arrancar, esteve perto do fim e agora ganha novo fôlego.

Nascida em São Pedro Cova Gala (Figueira da Foz), Iolanda abalou ainda bebé para a aldeia de Louriçal, no concelho de Pombal, juntamente com os pais, João Artur, professor, e Alexandra, auxiliar de ação educativa. A música surgiu-lhe cedo no caminho. Com apenas quatro anos já tocava ferrinhos e pouco depois entrou para o grupo de cavaquinhos local. “Foi lá que tomei contacto de perto com a obra de alguns dos melhores cantores portugueses, como José Afonso e Fausto, que ainda hoje são influências”, salienta.

Simultaneamente, cantava em casa. E não só. Com dez anos subiu ao palco da escola e venceu um concurso de talentos, com um tema da banda norte-americana Evanescense. “Foi o clique que me fez compreender que queria fazer da música profissão”, recorda. Apostou forte e tentou a sorte em vários concursos televisivos, onde viveu um calvário de desilusões. Com 14 anos, saiu logo na segunda gala de “Uma canção para ti”, da TVI. Com 17, passou a primeira fase de “Ídolos”, na SIC, mas não chegou à fase das atuações em palco. Com 20, foi chumbada no primeiro teste do “The Voice”, da RTP. Desabou em lágrimas e foi confortada pelo júri, constituído por Rui Reininho, Mickael Carreira, Anselmo Ralph e Marisa Liz. “Pensei em desistir”, admite. Mudara-se entretanto para Lisboa, onde cantou em bares e se licenciou em Ciências da Comunicação, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Foi depois para Londres durante dois anos para se aperfeiçoar em composição no BIMM Music Institute, enquanto trabalhava como empregada de mesa e baby-sitter. “A ida para Inglaterra fez renascer a minha paixão pela música. Sou saudosista e a falta dos meus inspirou-me e ajudou-me a aceitar traumas e inseguranças”, descreve.

“A Iolanda tem um talento paranormal. É focada, muito metódica, trabalha imenso e é brutalmente esforçada”, elogia Rita Barradas, manager da cantora desde maio do ano passado. “Costumo dizer que é como o Cristiano Ronaldo em termos de empenho. A cabeça dela não pára nunca em busca de ser cada vez melhor”, completa.

Fã de queijo, de dourada grelhada com batatas a acompanhar e de um bom vinho – “e a retomar o gosto por sushi” -, o primeiro contacto com o Festival da Canção aconteceu em 2022, quando compôs e escreveu “Mar no fim”, interpretado por Biacci, que não ultrapassou a segunda semifinal. Começava aí um percurso que parecia escrito nas estrelas. Pelo meio lançou “Cura”, o álbum de estreia, com sete canções escritas durante a pandemia. Até que foi chamada a participar de novo no Festival da Canção, agora como protagonista, com “Grito”. “Tinha metade da canção feita desde há um ano. Guardei-a para um momento especial”, conta.

“Quando surgiu o convite da RTP, percebi imediatamente que esse era ‘o’ momento”. E teve companhia especial na final. O avô materno sentou-se com ela na Green Room e acompanhou-a de perto do primeiro ao último momento. “Senti que seria uma força importante para minha neta, um conforto. Ganhou o festival, mas para mim seria sempre a vencedora mesmo que ficasse em último lugar”, confidencia Vítor Varalonga.

Iolanda percebeu que o seu universo mudara quando foi anunciado o seu primeiro lugar. “Aliás, ainda estou um pouco dormente e a tentar perceber o que aconteceu. Preciso de dormir bem para depois acordar e entender”, confessa. Vai representar o nosso país no Festival da Eurovisão que decorrerá entre 7 e 11 de maio em Malmö, na Suécia. Até lá, ficam de lado as visitas a lojas de roupa em segunda mão, que diz adorar, o gosto por explorar novos restaurantes, as séries consumidas em catadupa. “Não tenho tempo. Vou trabalhar imenso para dignificar Portugal.”

Cargo: vencedora do Festival da Canção 2024
Nascimento: 04/11/1994 (29 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (São Pedro Cova Gala, Figueira da Foz)