Tinta inteligente para combater contrafação têxtil

Tatiana Aguiar e Lucília Domingues criaram uma fórmula invisível e comercialmente viável de atestar a autenticidade das peças, que apenas é detetável com um equipamento que emite luzes de várias cores

Os marcadores invisíveis, depois de impregnados em peças de roupa ou de decoração, vão permitir atestar se os produtos são genuínos ou não. Só falta a patente para a tecnologia começar a ser comercializada.

São bio-tintas fluorescentes e sustentáveis, capazes de mudar de cor em função da luz a que estão expostas, que prometem revolucionar o fabrico de têxteis inteligentes e combater a contrafação. A indústria tem interesse, sobretudo para artigos mais nobres, e a tecnologia já foi submetida ao pedido de patente.

Comecemos pelo princípio. O projeto de investigação arrancou em 2018, pelas mãos do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho que, em parceria com o CeNTI (Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes), decidiu fazer uso da biotecnologia – normalmente usada em investigação biomédica – para criar tintas a partir de biomoléculas produzidas em microrganismos, ao contrário do processo tradicional que usa materiais de base sintética, derivados do petróleo. “O objetivo era ver se as moléculas duravam algum tempo depois de aplicadas no têxtil. Por serem biodegradáveis, temíamos que não se aguentassem. Posso fazer uma analogia: queremos sacos de plástico que sejam biodegradáveis, mas que não se degradem quando estamos a transportar as compras”, simplifica Tatiana Aguiar, investigadora principal de um projeto que chegou ao fim com resultados positivos.

As bio-tintas fluorescentes sustentáveis têm como objetivo serem utilizadas em têxteis, desde roupa e decoração, para combater a contrafação

Mas, na prática, qual será a utilidade? Evitar a contrafação na indústria. Como? Mergulhando nesta tinta uma parte das peças têxteis, roupa ou decoração. A quantidade aplicada não será visível a olho nu, só com um equipamento desenvolvido pelo grupo de investigação, que emite luzes de várias cores. Ao apontar para a peça, permite perceber se o tecido tem a marca anticontrafação. “As marcas têm algumas estratégias para atestar que o produto saiu da sua empresa, nomeadamente as etiquetas, mas que são facilmente copiáveis.” Como estas tintas são produzidas de forma biotecnológica, diz a investigadora, “têm propriedades muito únicas, difíceis de clonar”.

Assim que for patenteada, a ideia é comercializar a tecnologia. Tatiana Aguiar diz que o dispositivo criado para detetar a marca das bio-tintas não se destina só a entidades fiscalizadoras, é “suficientemente simples para ter numa loja e ser usado pelo consumidor final, para atestar que a peça é genuína, ou confirmar a origem do algodão”. É ainda possível gerar marcadores únicos para cada empresa, “há uma variedade de combinações de moléculas”. Então e o custo? Um medicamento obtido a partir da biotecnologia – como as vacinas para a covid-19 – fica muito caro. Porém, neste caso, o preço “é viável”. Não só porque se apostou em reagentes menos purificados, como a escala industrial “reduz o valor”.

Para já, as bio-tintas vão ser usadas nos têxteis, mas, no futuro, podem funcionar como impressões de segurança em notas ou em documentos de identificação.