Rui Abrunhosa Gonçalves: um académico audaz

Rui Abrunhosa Gonçalves é diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais

Os amigos anteveem um percurso de “sucesso” ao novo diretor-geral da Reinserção e Serviços Prisionais. Elogiam-lhe o “caráter amigável” e a “visão de futuro”. Nos tempos livres, é “um caçador amante da Natureza que “sabe tudo sobre pássaros”.

Começou a carreira na cadeia de Paços de Ferreira como técnico educador em 1986 e, agora, 36 anos depois, volta às raízes da vida profissional para liderar a Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais. Para os amigos de Rui Abrunhosa Gonçalves, não há dúvidas que o lugar lhe assenta na perfeição. É o reconhecimento “pelo trajeto percorrido” e por ter ido além do “típico académico”.

No núcleo mais próximo, ligado à Escola de Psicologia da Universidade do Minho, onde estava a trabalhar como professor e investigador, há quem lhe aponte “uma visão de futuro” que o distingue, à qual soma um currículo extenso dedicado às questões relacionadas com o sistema prisional. “Tem provas dadas e está muito bem preparado em termos científicos e de conhecimento”, assegura Paulo Machado, amigo de longa data.

“Ele foi muito importante para a Psicologia, porque abriu um caminho importante para a Psicologia da Justiça. Isso é um mérito muito forte. Não é um académico típico que cumpriu, publicou muito e subiu na carreira. Tem uma audácia grande e avançou com uma área nova em Portugal. Lutou por isso”, acrescenta Pedro Rosário, que, à semelhança de Paulo Machado, não deixa de revelar surpresa pelo facto de o Ministério da Justiça ter escolhido um estudioso para um lugar de liderança. “Isto é merecido. Mas não estamos habituados a que o mérito tenha reconhecimento social”, justifica Pedro Rosário.

O currículo de Rui Abrunhosa Gonçalves, casado e pai de três filhos, é, de facto, preenchido. Natural de Leiria, licenciou-se em Psicologia, fez mestrado em Psicologia do Comportamento Desviante pela Universidade do Porto, onde reside, e doutorou-se em Psicologia da Justiça pela Universidade do Minho. Tem conduzido investigações sobre o sistema prisional, a psicopatia, a psicologia forense e a criminalidade adulta, nomeadamente agressores conjugais e sexuais. Publicou diversos livros, além de duas centenas de artigos científicos.

Marlene Matos, amiga há mais de duas décadas, antevê que o cargo nos serviços prisionais resulte “num sucesso”. “Tem muita capacidade de trabalhar em equipa e liderar equipas. Como observador e comunicador de excelência, facilmente constrói pontes. Sempre teve uma visão de futuro sobre a melhor forma de solucionar problemas e superar obstáculos.”

Arrancar um defeito ao amigo é tarefa quase impossível. Só Pedro Rosário arrisca: “Podemos dizer que terá alguma dificuldade em focar, por causa de querer ajudar tanta gente. Poderá ser a sombra que deixa para trás”. O “caráter amigável” é-lhe tão característico, que Pedro Rosário recorda um episódio, à porta de sua casa, no Porto. “Há lá um arrumador de carros recente, ex-preso, que o cumprimentou. O Rui não se lembrava bem dele, porque passaram mais de 20 anos, mas o senhor identificou-o e disse que lhe estava muito agradecido. É uma evidência da marca que deixou [quando esteve na cadeia de Paços de Ferreira].”

Em conjunto com Paulo Machado, Pedro Rosário diz que formam “uma espécie de amigos da rulote”. Não seguem as pisadas de Rui Abrunhosa Gonçalves na caça, o maior hobbie que lhe é reconhecido, mas partilham boleias há muitos anos entre o Porto e Braga. “Cumprimos as boas regras da higiene ambiental”, brinca Pedro Rosário, lamentando que, além dos carros estarem a ficar cada vez mais vazios – o investigador Óscar Gonçalves fazia parte da trupe, mas trocou a Universidade do Minho por Coimbra há um ano -, também perde um amigo nas conversas à volta da máquina de café da Escola de Psicologia. “Era uma rotina muito interessante. Chegávamos e ficávamos os três a tomar café junto dos funcionários. Conversávamos sobre as notícias e as banalidades do dia”, conta.

Nessas e noutras convivências, Paulo Machado, que o acompanha desde os tempos da licenciatura, diz que fica sempre “fascinado” com o conhecimento que o amigo Rui tem sobre ornitologia. “Sabe tudo sobre pássaros. Consegue reconhecer qualquer um que lhe apareça pela frente. Tem essa dimensão do caçador amante da Natureza.”

Rui Abrunhosa Gonçalves
Cargo:
diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais
Nascimento: 23/04/1958 (64 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Leiria)