Margarida Rebelo Pinto

Quem paga a conta?


Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

O Mundo está tão virado do avesso que quando um homem convida uma senhora para jantar, ninguém sabe o que vai acontecer na hora de pagar a conta. Existem feministas que se sentem ofendidas se o macho quiser fazer o obséquio de convidar. Parece que o corrente nos dias de hoje é rachar o valor ao cêntimo, tudo a 50/50, já que as mulheres andam há tantos anos a proclamar direitos iguais. Entendo o conceito, só que não me assiste, porque ainda pertenço à geração em que o cavalheiro escolhe o restaurante, vai buscar a menina a casa e paga a conta. Um date que se preze requer que o outro nos faça flores, ou as traga pela mão, singelas e alegres como todos os inícios.

Diz-me a rapaziada amiga que muitas vezes elas fazem questão de pagar o jantar e que isso é sinónimo de que estão a investir no encontro. Não sou homem, por isso não consigo pôr-me na pele de um, mas parece-me que se fosse, e uma mulher fizesse questão de pagar o primeiro jantar, a mandava diretamente para a pasta dos casos arquivados, porque quer se queira, quer não, mulheres e homens não são iguais. Serão em direitos, mas não na sua génese. Não interessa discutir quem é mais forte, astuto, inteligente e corajoso, quem ganha mais ou quem consegue maior progressão na carreira. A guerra dos sexos é uma estupidez e o espírito de competição entre homens e mulheres redunda em batalhas inúteis e desgastantes nas quais ambos perdem. O que me interessa é que as pessoas sejam felizes e, para tal, é importante e necessário que ajam de acordo com os seus princípios e que saibam, ou pelo menos intuam, o que pode fazer o outro feliz. Ditam as regras da boa educação que quem convida paga, o que facilita a tomada de decisão em vários casos. Contudo, sabemos que o estilo tímido, aquele que, por mais entusiasmado que esteja, nunca sai com o primeiro peão ao xadrez, prefere que a dama sugira um jantar a dois, para logo aproveitar a deixa e fechar uma data. Nesse caso, quem paga? Para mim é muito claro: paga o cavalheiro. Se não tiver orçamento para o Gambrinus, convida para jantar no Pomar de Alvalade, que até serve iscas com todos quando joga o Benfica.

Pode parecer antiquado ou mesmo reacionário, mas para as mulheres da minha geração é levado em consideração um homem que pratica automaticamente pequenos gestos, como caminhar do lado de fora da rua, abrir a porta do carro, ou descer as escadas à nossa frente. Não existe nada de errado em um homem ser cavalheiro. A sedução dá sal à vida, agradar a quem se quer bem traz satisfação pessoal. Entristece-me pensar que, se o cavalheirismo está a acabar, tal se deve em grande parte às mulheres. Não sou menos feminista nem sinto a minha determinação afetada enquanto defensora dos direitos das mulheres por apreciar gestos de cavalheirismo. Pequenos gestos que revelam uma atitude de proteção e que, convenhamos, sabem muito bem. Como disse Mies van der Roe, Deus está nos detalhes, e é da soma de pequenos nadas que se constrói a vida. Rezo e desejo que o cavalheirismo não entre em extinção, porque se assim for, a vida será muito mais aborrecida.