Harpa: nascida para encantar

A harpa é um instrumento musical associado ao poder do encantamento

Engendrada uns milhares de anos antes de Cristo, com o arco de caça a servir de inspiração, a harpa popularizou-se na Idade Média.

Um arco de madeira, uma corda feita de tripa de animal atada às pontas de um ramo para fazer soar e uma cabaça a servir de caixa de ressonância, para o som ficar mais forte. Eis a versão mais primitiva da harpa, que remonta ao período antes de Cristo e a regiões como a Babilónia e a Mesopotâmia. E ao que tudo indica pode agradecer a sua existência aos arcos de caça – o barulho emanado do roçar da corda terá sido o derradeiro toque de inspiração.

Os mais antigos registos da harpa foram encontrados em vasos sumérios datados do ano 3500 a.C.. Mas também há alusões a este instrumento musical nas fábulas épicas e poesias da Antiguidade, em textos religiosos cristãos, no túmulo do Faraó Ramsés III, nas esculturas da Grécia Antiga ou mesmo em cavernas do Iraque que já existiam quase 3000 anos a.C.. Mas a chegada à Europa tardou.

Crê-se que terá acontecido apenas no século VIII, durante o crescimento do Islamismo. O norte de África foi o ponto de partida e Espanha a porta de entrada. Daí à disseminação pelo continente foi um passo. Durante a Idade Média, tornar-se-ia instrumento obrigatório em todos os jograis, danças e festividades populares. E no século XV até a nobreza se rendeu à sua sonoridade, com os membros das cortes a dedicarem-se ao estudo do instrumento.

Quanto à harpa com pedais, foi preciso esperar mais mil anos. Celestin Hochbrücker foi o autor de tal invenção, por volta de 1720, mas o francês Érard também tem culpas no cartório, visto que em 1810 concebeu uma espécie de versão aperfeiçoada da invenção germânica. De então até hoje, um atributo nunca a largou: a harpa continua a ser associada ao poder do encantamento.