Margarida Blasco: da reforma para o Governo

Margarida Blasco é ministra da Administração Interna

Julgou o caso de Camarate e a burla de D. Branca. Liderou os serviços secretos e foi a primeira mulher à frente do IGAI. Nas reuniões com a PSP e a GNR, exigiu que tudo fique lavrado em ata.

É dos membros mais veteranos do Governo e calhou-lhe em mãos um dos temas delicados que promete marcar os primeiros meses do novo Executivo liderado pelo social-democrata Luís Montenegro. Margarida Blasco está a negociar com as polícias as velhas reivindicações da classe, em particular a atribuição de subsídios de risco, tal como já acontece na Polícia Judiciária. A ministra da Administração Interna assumiu o assunto como prioritário e garantiu que vai propor aos efetivos da PSP e da GNR, já no próximo dia 2 de maio, uma solução que vá ao encontro do que tanto reclamam.

Embora não tenha avançado valores, a antiga juíza, 67 anos, mostrou-se otimista no desbloquear de um dossiê duro. “Estamos a fazer um trabalho muito árduo no sentido de apresentar essa proposta aos sindicatos, com todas as condições e aquilo que nós entendemos ser a satisfação para todos os profissionais das polícias”, assegurou.

Durante as reuniões com os representantes da PSP e da GNR, procurou no diálogo o caminho para resultados finais. “Surpreendeu pela postura afável e disponível com que se apresentou nas negociações”, revela à NM fonte que acompanhou de perto o processo. Chamou igualmente a atenção por alguns pedidos e atitudes pouco usuais neste tipo de conversações entre Governo e setores profissionais. “Questionou se alguém se opunha a que toda a discussão ficasse lavrada em ata”, adianta a mesma fonte. “É sinal de que pretende assegurar lealdade e igualdade democrática”, completa.

Nascida em Castelo Branco e licenciada pela Universidade de Lisboa em 1978 – foi colega, entre outros, de Durão Barroso -, Margarida Blasco nunca tinha cumprido funções governativas diretas. Mas já conhecia um Governo por dentro, foi chefe de gabinete do secretário de Estado adjunto do ministro da Justiça, José Borges Soeiro, entre 1987 e 1991, no primeiro elenco de maioria absoluta PSD de Aníbal Cavaco Silva. Cerca de três décadas mais tarde, em 2014, o seu nome foi aventado para substituir o ministro demissionário da Administração Interna, Miguel Macedo, no Governo PSD/CDS de Pedro Passos Coelho, o que não chegou a concretizar-se.

Destacou-se desde cedo na magistratura, tendo a sido juíza responsável por vários casos mediáticos, como o julgamento de Dona Branca, a célebre agiota de Lisboa que emprestava dinheiro com promessa de juros elevados, responsável por uma das maiores burlas financeiras da década de 1980. E do processo sobre a queda em Camarate, a 4 de dezembro de 1980, do avião Cessna que vitimou, entre outros, os então primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, e ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa. Também julgou Fernando Negrão, ex-diretor da Polícia Judiciária (PJ) e mais tarde ministro do PSD por suspeitas de fugas de informação quando liderava a PJ.

Integrou o Tribunal da Relação de Lisboa e terminou a carreira em 2021, dois anos após ter subido a conselheira do Supremo Tribunal de Justiça. Pelo meio, foi diretora dos Serviços de Informação e Segurança (SIS) por nomeação do primeiro-ministro Pedro Santana Lopes (PSD), num período de um ano e meio marcado por tensões com alguns espiões. Destacou-se, ainda, como a primeira mulher à frente da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), entre 2012 e 2021, onde deixou marca forte no combate a atos de racismo praticados por forças policiais.

“É juíza jubilada desde 2021, com uma longa carreira que fala por si. Com a sua idade e passado, poderia perfeitamente ter recusado o convite para integrar o Governo e dedicar-se a outras coisas, provavelmente seria o que outra pessoa na sua situação faria sem hesitar”, diz quem a conhece bem. “Ao aceitar o cargo de ministra da Administração Interna demonstrou o seu sentido de serviço e de dever público”, considera.

Quem a conhece, adivinha-lhe sucesso. “Nota-se-lhe ainda uma certa impreparação política, nomeadamente na forma como comunica em público. Mas isso é algo que irá ganhar com o tempo, certamente”, confia outra das fontes contactadas pela NM. “É tímida mas firme”, resume.

Cargo: ministra da Administração Interna
Nascimento: 25/07/1956 (67 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Castelo Branco)