Gripe e AVC. Sim, há uma relação

A gripe revelou-se um fator de risco para a ocorrência de AVC

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. A gripe é um dos fatores de risco. A 31 de março assinala-se o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral.

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é da máxima pertinência e exige a maior atenção. Em Portugal, é a principal causa de morte e incapacidade permanente. A cada hora, três portugueses sofrem um AVC, um deles não resiste, metade dos sobreviventes fica com sequelas incapacitantes. Por ano, no nosso país, morrem cerca de 11 mil pessoas. A 31 de março, assinala-se o Dia Nacional do Doente com AVC que surgiu para sensibilizar a população para a realidade da doença e promover medidas preventivas.

Em 2015, Sofia Duque, coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, juntamente com um grupo de colegas, publicou um estudo realizado a pessoas que frequentavam consultas médicas hospitalares com a finalidade de avaliar o grau de conhecimento sobre fatores de risco e atitudes a ter face à suspeita de AVC. “Reconhecer fatores de risco é fundamental para poder implementar estratégias de prevenção personalizadas e otimizar a adesão às mesmas”, sublinha.

Das 248 pessoas entrevistadas, mais de 65% reconheceram que a hipertensão arterial é um fator de risco. Mais de metade reconheceu a dislipidemia, o stress e o estilo de vida sedentário. “Surpreendeu-nos que a diabetes, a obesidade, o tabagismo e alcoolismo fossem reconhecidos como fatores de risco para o AVC por tão poucas pessoas – menos de 1/4 dos entrevistados”, comenta. “Não obstante, mais de 95% dos entrevistados identificavam os três principais sintomas de AVC: falta de força de um braço e/ou perna, dificuldade a falar e desvio da face, mostrando saber de que doença estávamos a falar”, refere.

O risco de AVC aumenta quase oito vezes durante os três dias seguintes à infeção por gripe, mesmo em pessoas saudáveis

“Na altura, pensámos: se as pessoas não reconhecem os fatores de risco do AVC, jamais se conseguirá prevenir eficazmente o AVC, tanto mais que muitos dos fatores de risco em causa são difíceis de tratar ou reverter.” Era claro que eram necessárias campanhas informativas e de educação sobre as estratégias preventivas contra o AVC. “Por mais que as intervenções sejam difíceis, exijam comprometimento e adesão consistente ao longo do tempo”, avisa a responsável.

A gripe revelou-se um fator de risco para a ocorrência de AVC. Sofia Duque explica. “De facto, o risco de ocorrência de um AVC aumenta em quase oito vezes durante os três dias seguintes à infeção por gripe, mesmo em pessoas saudáveis.” “A importância desta relação torna-se ainda mais relevante se considerarmos que a gripe é uma doença que afeta muitas pessoas em todo o Mundo e Portugal não é exceção”, acrescenta.

A imunização contra a gripe tem o potencial de prevenir as consequências e complicações seja a nível respiratório, cardiovascular ou neurológico

A imunização contra a gripe tem várias vantagens: é a forma mais eficaz de prevenir o AVC e evitar as suas complicações, como prevenir a pneumonia, a hospitalização e mesmo a morte. Sofia Duque lembra que “a pandemia da covid-19 veio reforçar a importância da vacinação e desvanecer os mitos e preconceitos associados.”

No Dia Nacional do Doente com AVC, fala-se então da vacinação contra a gripe. “Em especial, se pertencermos a um dos vários grupos de risco: 65 anos ou mais, residentes em instituições, portadores de diabetes, doença cardiovascular, insuficiência renal, doença pulmonar crónica, doença neuromuscular, doentes imunodeprimidos e grávidas.” Uma recomendação importante. Uma intervenção simples, prática e acessível.