Diogo Ribeiro: o português que sabe nadar, yo

A ideia de um português poder tornar-se num dos melhores do Mundo em natação tem sido, década após década, geração a geração, do domínio ficcional. Durante anos, investimentos parcos e tardios na modalidade, e a inexistência de talentos de tal forma fenomenais que pudessem ultrapassar as deficiências de fundo, tornaram impossíveis resultados de nível verdadeiramente internacional e aspirações acima do ridículo.

Em outubro de 2004, em Coimbra, nasceu Diogo Ribeiro e não sabíamos. O país descobriu este adolescente em Lima, Peru. Na disputa dos Campeonatos do Mundo de juniores de natação, o rapaz venceu três medalhas de ouro e bateu um recorde mundial da categoria. Mas o sinal maior fora dado em agosto, nos Europeus Absolutos de Roma, de onde trouxe a medalha de bronze nos 50 metros mariposa, conquista histórica.

Rodeado agora por câmaras e microfones, nada há de ficcional, impossível ou ridículo nos sonhos do atleta, que passam já pela possibilidade de uma medalha olímpica. Aos 17 anos, o já melhor nadador português de sempre – em marcas e currículo – obriga-nos a levá-lo muito a sério, tão a sério quanto se leva.

Entrar na água e nadar. É assim desde os quatro anos. “À primeira vista parece um miúdo como os outros. Mas pouco a pouco foi revelando uma forma muito segura de abordar a competição. A maneira como lida com a pressão e com a ansiedade, o empenho fortemente competitivo com que assume as provas foram fazendo dele um caso especial”, realça o treinador André Vaz. Diogo chegou-lhe com 11 anos. Com ele ficou até aos 16, primeiro no Náutico Académico de Coimbra, depois no União de Coimbra. “Fui treinador, preparador físico, psicólogo”, diz, lembrando uma criança e um adolescente “extrovertido, bem-disposto, bom jogador de Xbox”. Garante: “Olho o futuro e vejo o Diogo a ser o nadador que Portugal nunca teve. Já é o melhor de sempre, mas acredito que será muito mais”.

José Machado, diretor desportivo da Federação Portuguesa de Natação (FPN) admitiu ao DN: “Nunca se viu nada assim na natação nacional”.

Há um ano, o nadador assinou pelo Benfica. Trocou Coimbra por Lisboa, a casa de família pelo Centro de Alto Rendimento do Jamor. “O talento sempre foi inegável, mas estávamos um pouco apreensivos porque a passagem dos juniores para os seniores não é nada fácil. É uma fase que deita muitos atletas a perder”, destaca Mário Madeira, coordenador da natação de competição dos encarnados. Apreensão injustificada: “Está a correr muito bem”, salienta o antigo nadador. Destaca do jovem “a simplicidade, a calma e a capacidade de se focar nos objetivos”.

Foi precisamente por lhe notar falhas de concentração, evidenciadas após a perda do progenitor – Diogo tem a estrela de David tatuada no corpo em homenagem ao pai -, que a mãe o inscreveu na modalidade. Martim Machado é amigo de infância. Divide-os o clube – Diogo é benfiquista, Martim portista. Partilham o resto: o gosto pela Xbox, pelo hip-hop, pelas piscinas. Mais velho um ano, Martim é das pessoas que mais horas passou com Diogo dentro de água. “Tantos treinos. Deu logo para perceber o talento dele. E depois tem uma coisa: nos momentos mais importante, raramente cede. Quando lhe dizíamos que ia longe, começava a rir.” A partir de certa altura, passou a levar-se a sério. “Decidiu que faria da natação a sua vida”, frisa o futuro fisioterapeuta.

Em 2021, um acidente de mota provocou-lhe injúrias tão graves que poderia ter perdido o futuro que queria. Na cama do hospital percebeu que, ao contrário do que eu pensava, não era indestrutível. “Uma lição”, diria mais tarde. Apenas um ano depois, vencia uma importante medalha de bronze. O rapaz que já bateu recordes por mais de 50 vezes, o primeiro português a nadar os 100 metros livres em menos de 49 segundos, quer agora um pouco de sossego. E a comidinha da mãe.

Diogo Matos Ribeiro
Cargo: tricampeão mundial júnior de natação
Nascimento: 27/10/2004 (17 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)