Jorge Manuel Lopes

Uma libertação sem cravos

(Foto: DR)

Crítica de cinema, por Jorge Manuel Lopes.

O nosso 25 de Abril projeta naturalmente uma sombra que empurra para segundo plano outro dia com liberdade que se celebra na mesma data e não muito longe.

Vinte e nove anos antes da Revolução dos Cravos, o Comitato di Liberazione Nazionale Alta Italia, de resistência ao fascismo e ao nazismo, apela via rádio à insurreição em todos os pontos do país sob ocupação totalitária e anuncia a condenação à morte de Benito Mussolini e restante hierarquia fascista. O que aconteceria, por fuzilamento, três dias depois. Em 1946, a Festa della Liberazione começa a ser celebrada nas ruas.

Como em toda as latitudes curadas da II Guerra Mundial, esta libertação italiana sem cravos, com a humana mistura de alegria, esperança, dúvida e feridas a cicatrizar, viu-se refletida nas artes. E Roberto Rossellini foi dos primeiros e mais bem-sucedidos, em aclamação popular e crítica, com “Libertação”.

O filme é a peça do meio de uma esplendorosa trilogia bélica, antecedido por “Roma, cidade aberta”, em 1945, e sucedido por “Alemanha, ano zero”, em 48. Estruturado em seis episódios, “Libertação” alinha histórias de guerra e amor, pobreza e morte e fé. Começa com a chegada de tropas aliadas à Sicília e viaja física e narrativamente até ao extremo norte, atravessando uma floresta de idiomas, tropeçando em barreiras à comunicação. Tem confusão, tem esperança, lembra como a liberdade custa.