Reutilizar corantes e água contaminada pela indústria têxtil

O projeto, cofinanciado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, está numa fase avançada

Investigação da Universidade de Coimbra em parceria com instituto indiano procura soluções para setor muito poluente.

Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) estão a trabalhar em parceria com colegas indianos para encontrar uma solução que permita reutilizar os corantes de tingir fibras e a água gasta neste processo, minimizando os impactos da poluição causada pela indústria têxtil. A tecnologia, desenvolvida no âmbito do projeto CirRe-Dyeing, tem suscitado interesse de empresas do setor e poderá chegar ao mercado dentro de dois a três anos.

As indústrias do setor têxtil “estão entre as que mais geram águas residuais, esgotando e contaminando as fontes de água potável devido ao elevado número de produtos químicos (corantes, sais, metais, etc.) utilizados nos processos de tingimento e acabamento”, explica a equipa liderada por Jorge Pereira, docente do departamento de Engenharia Química da UC e investigador no Centro de Engenharia Química e Recursos Renováveis para a Sustentabilidade, sublinhando que “muitas soluções têm sido propostas para enfrentar este desafio, mas a maioria centra-se na destruição destes compostos, em vez da sua reutilização”. Estima-se que, anualmente, sejam descarregadas no ambiente cerca de 280 mil toneladas de corantes da indústria têxtil, que é, também, das maiores consumidoras de água.

É neste contexto que surge o projeto CirRe-Dyeing, desenvolvido em colaboração com o IIT Madras, na Índia, como parte de um esforço bilateral para encontrar soluções para um dos setores industriais mais representativos nos dois países. A nova tecnologia aposta na “utilização de compostos ecológicos e de baixo custo para formar sistemas de extração integrados capazes de recuperar e concentrar os corantes sintéticos presentes nos efluentes têxteis”. Assim, acrescentam os investigadores, “os corantes recuperados podem ser reincorporados em novos ciclos de tingimento têxtil, possibilitando ainda a reutilização das águas”.

O projeto, cofinanciado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, está numa fase avançada. Já foram realizados testes laboratoriais e em pequena escala que demonstram a viabilidade da tecnologia. Seguem-se demonstrações de conceito com o objetivo de validar a sua eficácia em situações mais próximas da realidade. Entretanto, várias empresas têm manifestado interesse no projeto e os investigadores acreditam que será possível chegar ao mercado dentro de dois a três anos.