Reed Hastings: dentro da caixa

Reed Hastings é CEO da Netflix

Nasceu e cresceu em Boston, numa família de pergaminhos culturais. Em 1997, com 2,5 milhões de dólares cofundou a Netflix. A plataforma vale biliões e um recorde de prémios.

Talentos de elite, pragmatismo, altíssimo desempenho e dois anos de subversão do nosso modo de vida, com o SARS-CoV-2 a confinar o Mundo e a remeter o entretenimento para as nossas salas de estar, conduziram a números avassaladores. Basta dizer que os primeiros seis meses de 2020 renderam tantos novos clientes à Netflix quanto os de todo o ano anterior, e que foram registados 209 milhões de assinantes, em 190 países (um levantamento feito pelo portal Sapo 24 e o JustWatch indica que em Portugal, desde a pandemia, o serviço cresceu 171%). As vendas, que vinham aumentando 25% ano após ano, e os lucros mais do que dobraram. As ações valorizaram-se em 50% (dados da “Forbes”), com os clientes a acompanhar filmes e séries, livres de publicidade, em maratonas noctívagas. “The Crown”, “Gambito de Dama”, “La Casa de Papel” – no mínimo, quem não ouviu falar?

Números recentes são igualmente impressivos. E estabeleceram recordes: 44 prémios de representação, de escrita, de realização e de categorias técnicas foram a façanha da plataforma de streaming na última edição dos Emmy, a 73.ª cerimónia da Academia de Artes e Ciências da Televisão.

“Os troféus perenes exigem a contratação perpétua de artistas de alto desempenho”, defende Reed Hastings em “No rules, rules”, (“A regra é não ter regras”, na edição portuguesa). No livro, o cofundador e CEO da plataforma criada em 1997 apresenta o “Netflix Way”. A cultura da sua empresa, diz, é a de uma equipa desportiva profissional: esforço permanente conjunto, porém ausência de lágrimas quando um colega é descartado. Lançada como a primeira loja de aluguer de DVD online do Mundo, com apenas 30 funcionários e 925 títulos disponíveis, oferece aos assalariados férias abundantes e exige responsabilidade máxima. Traços de uma linha empresarial que diz muito de Reed – algum caos, compromisso total, recusa do fracasso. Assim atravessou a crise de 2001, provocada pelo 11 de setembro. Precisamente um ano depois, em setembro de 2002, com a economia mundial em recessão, o “The New York Times” dava conta de que a Netflix enviava pelo correio cerca de 190 mil discos por dia para 670 mil assinantes mensais com tendência crescente. Assim foi: de um milhão de assinantes no quarto trimestre de 2002 para cerca de 5,6 milhões no final do terceiro trimestre de 2006 e para 14 milhões em março de 2010.

Crise é igual a sucesso. Herdou o gosto pela adversidade do bisavô. Alfred Lee Loomis, advogado, magnata de Wall Street, filantropo, cientista, prevendo a quebra do mercado de ações de 1929, voltou a atenção para a ciência, financiando um laboratório que atraiu Albert Einstein, Enrico Fermi e Ernest Lawrence.

Hasting, filantropo na área da educação, nasceu e cresceu em Boston, numa família de pergaminhos culturais – o pai estudou em Harvard, a mãe em Wellesley – e frequentou escolas particulares. Bacharel em Matemática. O jovem geek serviu no Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, passou dois anos no Corpo de Paz, a maioria do tempo ensinando Matemática na Suazilândia e, regressado a casa, inscreveu-se na Universidade Stanford, de onde saiu mestre em Ciência de Computadores. Especialista em software, fundou em 1991 a Pure Software, que venderia seis anos depois por lucro substancial. Foi com parte desse lucro (2,5 milhões de dólares) que iniciou a Netflix. A capitalização de mercado atual é, segundo a “Forbes”, de 213,3 mil milhões de dólares (quase 181,6 mil milhões de euros).

Wilmot Reed Hastings Jr.
Cargo:
CEO da Netflix
Nascimento: 08/10/1960 (60 anos)
Nacionalidade: Americana