Meningite, a grave infeção que não escolhe idades

Há duas bactérias responsáveis pela maioria dos casos de meningite bacteriana: o pneumococo e o meningococo

Qualquer pessoa pode ser afetada. Recém-nascidos, crianças, adolescentes e idosos são os que estão em maior risco. Nas primeiras horas, os sintomas são semelhantes aos de uma gripe. A proteção é o melhor remédio.

“A meningite é a inflamação das meninges, as membranas que revestem o cérebro e a medula espinal. É provocada maioritariamente por vírus e bactérias, mas também por fungos ou parasitas”, adianta Hugo Rodrigues, pediatra na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Viana do Castelo. A meningite meningocócica é a infeção bacteriana das meninges e da medula espinal, também provocada por uma bactéria. No nosso país, são registados casos em todas as faixas etárias e um em cada quatro adolescentes podem ser portadores assintomáticos da bactéria que causa a doença, tornando-se, assim, potenciais transmissores.

A transmissão é um caso sério. “Tal como a covid-19, a doença meningocócica transmite-se através do contacto direto com gotículas e secreções nasais favorecidas pela tosse, espirros, beijos e pela proximidade física”, refere o médico, também responsável pelo site “pediatria para todos” (www.pediatriaparatodos.com) e autor de “O livro do seu bebé”. Embora seja uma doença pouco frequente, qualquer pessoa, em qualquer idade, pode ser afetada. Recém-nascidos, crianças, adolescentes e idosos estão em maior risco. “Trata-se uma infeção muito grave que pode evoluir de sintomas inespecíficos até à morte em apenas 24 horas”, avisa.

Manchas na pele, dor de cabeça, sensibilidade à luz e dificuldade em mexer o pescoço são os sintomas mais típicos

Numa fase inicial, nas primeiras quatro a oito horas, os sinais e sintomas são pouco específicos e podem ser semelhantes aos de uma gripe. “As crianças apresentam sonolência, falta de apetite, febre, náuseas, vómitos, dor nas pernas e irritabilidade”, adianta o pediatra. “Mais tarde, com a progressão da doença, surgem os sintomas mais típicos: manchas na pele, dor de cabeça, sensibilidade à luz e dificuldade em mexer o pescoço (rigidez da nuca)”, acrescenta.

Hugo Rodrigues
(Foto: DR)

Toda a atenção é necessária porque a infeção pelo meningococo B tem uma mortalidade entre os 5% e os 7%. E uma em cada cinco pessoas que sobrevivem fica com sequelas que se dividem em cinco grandes grupos. Sequelas neurológicas com alterações motoras, epilepsia, transtornos convulsivos. Sequelas físicas em que, nalguns casos, podem levar a amputações. Sequelas sensórias com perda auditiva ou visual. Sequelas cognitivas no atraso no desenvolvimento que culminará num défice intelectual. E sequelas sistémicas, ou seja, lesões nos órgãos ou desregulação hormonal.

A infeção é maioritariamente provocada por vírus e bactérias, mas também por fungos ou parasitas

“A proteção é o melhor remédio”, garante o especialista. A vacinação é essencial, a única forma de prevenir a infeção bacteriana. “Apesar da população portuguesa estar cada vez mais sensibilizada para a importância da vacinação é preciso apostarmos em campanhas e programas de prevenção. Uma ação facilmente justificada pela grande diversidade dos tipos de meningite, desde bacterianas a virais, e pelo simples facto de não existir uma única vacina contra a meningite”, sustenta.

A vacina para o meningococo B já está disponível, desde 1 de outubro de 2020, no Plano Nacional de Vacinação, abrangendo todas as crianças que nasceram desde o dia 1 de janeiro de 2019. Para todas as crianças que nasceram antes dessa data, o custo dessa vacina tem de ser suportado pelos seus familiares.

Para sensibilizar para a importância da vacinação contra a meningocócica, há uma campanha designada “Por uma vida inteira pela frente”, que lançou um documentário que reforça que adiar a vacinação representa um perigo para a vida das crianças e jovens. Um documentário, disponível na internet, que conta com os testemunhos de uma mãe de uma criança sobrevivente de meningite, de Lenine da Cunha, atleta paralímpico e também sobrevivente de meningite, e de seis médicos.

“Um documentário que conta com histórias reais e que alerta os atuais e futuros pais para a importância de estarmos atentos a esta doença que pode ser extremamente perigosa para as nossas crianças e adolescentes”, realça o pediatra Hugo Rodrigues.