Coração. Como cuidar do órgão que bate no peito?

A identificação dos fatores de risco na mulher é essencial para combater a subvalorização e falta de consciencialização

Os hábitos diários e o estilo de vida interferem com o bem-estar da máquina que não pode parar um segundo. Hoje, 29 de setembro, é o Dia Mundial do Coração. Convém lembrar que, todos os anos, cerca de 35 mil portugueses morrem por doenças cardiovasculares.

É um dos órgãos centrais do corpo humano e, por isso, está em constante estudo e investigação por parte da comunidade científica. Nos últimos anos, a cardiologia tem registado avanços significativos: medicamentos mais específicos e eficazes, imagens tridimensionais que facilitam os diagnósticos de doenças estruturais e funcionais, técnicas cirúrgicas menos invasivas, próteses cada vez mais modernas e duráveis. A 29 de setembro, assinala-se o Dia Mundial do Coração.

“A par dos avanços tecnológicos, é possível diagnosticar e tratar doentes cada vez mais idosos e quadros clínicos mais complexos. No entanto, a doença cardiovascular continua a ser a principal causa de morte no mundo e a doença coronária é responsável por aproximadamente 1/5 das mortes em adultos entre os 45 e 64 anos”, adianta Ana Rita Victor, médica cardiologista, coordenadora de Smart Aging na Up Clinic.

As mudanças sociais condicionam estilos de vida que, por sua vez, influenciam o consumo de alimentos cada vez mais industrializados, e a obesidade tem vindo a aumentar em todo o mundo. Há riscos, portanto. “O excesso de tecido adiposo intra-abdominal, frequentemente denominado de obesidade visceral, está intimamente relacionado com fatores de risco cardiometabólicos, gerando um impacto a nível da inflamação, sistema imunitário, resistência à insulina, diabetes e hipertensão arterial”, avisa a cardiologista.

Ana Rita Victor refere que estamos perante uma era cardiometabólica e, como tal, é necessário considerar a designação do risco cardiovascular por risco cardiometabólico. “Ao fazê-lo, poderemos detetar precocemente indivíduos que, apesar de terem níveis normais de glicémia, têm também um risco oculto de doença aterosclerótica, devido a inflamação e hiperinsulinémia (insulina aumentada).” “É aqui que incide o nosso campo de atuação, olhar para a cardiologia preventiva numa ótica diferente, mais abrangente, para cuidar melhor do nosso coração”, acrescenta.

A diabetes está associada a um risco três a cinco vezes mais elevado de doença cardiovascular. para a medicina funcional, é preciso atuar numa fase muito mais precoce

Há certos tipos de dor que podem indiciar doença cardíaca. Um desconforto no centro do peito, pressão, aperto ou dor. Pode durar poucos minutos ou ir e vir e, por vezes, irradia para os braços ou costas. Um desconforto na parte superior do corpo, nos braços, pescoço, maxilar inferior ou estômago. Cansaço associado à região torácica. Náuseas, vómitos e suores frios podem ser manifestações de enfarte do miocárdio. Há outros sintomas como falta de ar, fadiga, palpitações, isto é, a perceção de batimentos cardíacos lentos, rápidos ou irregulares. Há ainda a sensação de desmaio iminente e inchaço das pernas, dos tornozelos e dos pés.

“Contudo, esses sintomas não indicam necessariamente uma doença cardíaca. Por exemplo, a dor torácica pode ser causada por uma doença pulmonar ou digestiva e não ter relação com doenças cardíacas. A falta de ar também pode ser causada por uma doença pulmonar ou mesmo inatividade física. A fadiga pode ser causada por uma ampla variedade de doenças”, explica a médica.

Ana Rita Victor, médica cardiologista, coordenadora de Smart Aging na Up Clinic
(Foto: DR)

E a pergunta que se coloca e que tem várias respostas. Quais os principais cuidados a ter com o coração? Dormir bem. A Academia Americana de Medicina do Sono recomenda que se durma entre sete e oito horas por noite. Poucas horas de sono aumentam o risco de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. Fazer exercício físico. É recomendado, no mínimo, 30 minutos de atividade física de intensidade moderada, cinco dias por semana.

A inatividade física aumenta o risco de doenças cardiovasculares em cerca de 20%

Alimentação cuidada, estilo de vida saudável. As dietas mediterrânea, nórdica ou vegetariana são cruciais para a prevenção do síndrome metabólico e da doença cardiovascular. Ana Rita Victor dá alguns conselhos. “Consumir alimentos cuja velocidade de entrada de açúcar na corrente sanguínea seja lenta, tais como alimentos de índice e carga glicémica mais baixos, evita a libertação de grandes quantidades de insulina.” “Podemos ser criativos e ter uma atitude pró-ativa enriquecendo a nossa dieta com legumes variados, chá verde, curcuma, antioxidantes, fibras insolúveis (existem principalmente nas hortaliças e nos cereais integrais), ácidos gordos ómega-3, algas marinhas, alimentos fermentados.”

Não fumar, ter atividades de lazer que combatam o stress quotidiano, adotar técnicas de relaxamento, sejam exercícios respiratórios, mindfulness, yoga, ou até compor uma playlist das músicas favoritas. E conviver com os amigos. Tudo isso faz bem ao coração. Segundo a cardiologista, os fatores de estilo de vida personalizados são fundamentais, uma vez que constituem, sublinha, “a fundação da saúde”. “Ao adotar um estilo de vida saudável, cria-se um impacto extraordinariamente importante na saúde cardiovascular.”

Para Ana Rita Victor, a medicina funcional deve ser encarada como um avanço e complemento à medicina convencional. “O foco convencional procura identificar os fatores de risco para doenças cardiovasculares, ou seja, a hipertensão, dislipidemia (colesterol/triglicéridos elevados), diabetes, obesidade. De seguida, procura calcular o risco cardiovascular baseado em scores e, por fim, estabelecer diagnósticos. O foco funcional olha para as causas subjacentes (inflamação, hiperinsulinémia, alterações do microbioma intestinal, resistência à insulina, entre outras) que levam ao aparecimento dos fatores de risco cardiovasculares referidos”, realça.